Mais um vexame

Arrogância e fragilidade

Por palavras e atos do próprio presidente e dos seus acólitos, o governo esbanja arrogância, mas não consegue esconder suas fragilidades.

As pesquisas – que andam rarefeitas ultimamente – já revelaram que o governante já não conta com o apoio de boa parte dos que o escolheram em outubro. Perde popularidade com invulgar rapidez.

Seus dois auxiliares antes apontados como “super” numa equipe ministerial sofrível – Sergio Moro e Paulo Guedes – se vêem chamuscados e com credibilidade em baixa.

O ministro da Economia, pela ausência de alternativas à crise econômica e a insistência no samba de uma nota só – a reforma da Previdência como solução para a retomada do crescimento econômico. Nem os mais exaltados defensores da reforma acreditam nisso.

O da Justiça a cada dia perde credibilidade e encolhe a empáfia, constrangido às cordas do ringue pelas revelações do Intercept_ Brasil. A solidariedade axaltada da extrema direita, que de vez em quando vai às ruas aos domingos destilar ódio e preconceito, é insuficiente para quem tem, ou tinha, pretensões tão altas.

Agora, esse caso do sargento da Aeronáutica pilhado com 39kg cocaína no avião presidencial surge como emblemático da vulnerabilidade de um governo que exibe tanta presunção autoritária.
No mínimo mais um vexame internacional.

O presidente e sua comitiva, como que nocauteados e ainda tontos, através do porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, fez questão de dizer que “o presidente, o Ministério da Defesa, o comando da Força Aérea, não admitem em hipótese alguma nenhum procedimento desse tipo…”.

Patético.

A imprensa que cobriu a chegada da comitiva presidencial ao Japão deve ter se surpreendido. Quando um governante precisou afirmar assim tão solenemente que não admite que integrantes do seu cortejo trafiquem drogas?

Já o vice-presidente no exercício do cargo, general Mourão, afirmou que o sargento é uma “mula qualificada”.

“Mula”, na linguagem dos traficantes, é o portador que se arrisca com certa porção de drogas proibidas, enquanto a verdadeira operação se dá em paralelo.

Enquanto a “mula” é flagrada e atrai todas as atenções da polícia, a remessa maior acontece impune.

Em ótimo artigo recente aqui no Vermelho (“A luta democrática e o abuso de autoridade”), Ronald Freitas assinalou muito bem que este governo tem como um dos seus pilares o esquema que se armou para interromper o ciclo progressista Lula-Dilma e instaurar “uma nova vertente poder paralelo e abuso de autoridade e intervenção política com aura jurídica e apoio político, tendo como centro a bandeira do combate à corrupção”.

Daí a arrogância e a exibição pretensiosa de uma nítida sensação de que pode tudo. “Eu tenho a caneta”, disse Bolsonaro recentemente numa de suas turras com o Congresso.

A frágil vigilância, ou a falta dela, na própria comitiva presidencial em viagem ao exterior dá a medida do quanto essa arrogância se apoia em bases frágeis.

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