A concertação da direita contra o povo e o estado nacional

 As conversas divulgadas pelo The Intercept Brasil entre o então juiz Sergio Moro e os procuradores da lava-jato revelam mais do que um crime, que claramente eles cometeram. Revelam uma grande concertação da direita, de alcance estratégico, com o objetivo de golpear arranjos geopolíticos como os BRICS e, por decorrência, tentar destruir as potências emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que integram o bloco.

Corresponde a uma velha estratégia dos Estados Unidos da América para assegurar sua hegemonia geopolítica, algo cada dia mais difícil de sustentar. Nem sempre o império americano logrou êxito nessas investidas, mas a sua ofensiva é permanente. Uma rápida observação nos principais embates dos últimos 70 anos não deixa dúvidas quanto a isso, com destaque para os seguintes fatos: patrocínio de sangrentas ditaduras militares mundo afora, dentre as quais a do Brasil; queda do muro de Berlin; colapso da União Soviética, espatifada em dezenas de republiquetas; levante da praça celestial na China; primavera árabe; o brexit, que retirou a Inglaterra do bloco europeu; e atual ofensiva contra os governos progressistas da américa latina. Tudo isso faz parte dessa guerra ideológica.

O objetivo central é sempre econômico, mas a tática varia. Eles “armam” seus operadores com um cardápio de acordo com o sentimento latente da população alvo. Mas, como regra, sempre está na pauta as cruzadas contra os “ditadores” e a “defesa da democracia” (quanta ironia); defesa de valores morais, às vezes beirando o obscurantismo; combate à corrupção que eles mesmo fomentam; e, se possível, a defesa aberta de ideias reacionárias como atualmente ocorre no Brasil e no continente latino-americano.

No caso específico do Brasil, a consequência direta dessa estratégia é a subordinação de nossa soberania aos Estados Unidos; aprofundar o desmonte de empresas estratégicas; entregar riquezas (como o pré-sal) ao capital estrangeiro; e arrancar direitos do povo.

Como a direita conseguiria fazer isso?fazer isso? ainda mais, direitos do povoresas estratossem impedidas de voltar ao comando do pa

Tal objetivo só poderia ser viabilizado se as forças progressistas fossem impedidas de voltar ao comando do país. E como impedir que isso acontecesse se as enquetes eleitorais indicavam que Lula ganharia no 1º turno de qualquer concorrente?

É aí que entram os agentes de campo, os “soldados” – como se designa, na linguagem dos órgãos de inteligência, aqueles que são encarregados do “trabalho sujo” – para executar a etapa operacional dessa empreitada: criminalizar a esquerda, eliminar o principal concorrente do pleito e impedir, por todos os meios, que o povo escolhesse livremente seu futuro presidente.

As conversas divulgadas entre Moro e os procuradores da lava-jato, portanto, apenas confirmam o que todos sabiam ou pressentiam. Muitos patrocinaram e continuam defendendo essa violência contra o estado democrático de direito porque, na essência, são defensores do estado autoritário preconizado por Thomas Hobbes (o Leviatã) e, portanto, avesso a democracia. Para esses não importa o método, desde que o fim seja alcançado.

E por que as forças progressistas não reagiram?

Esse é assunto para um “tratado” específico. Por enquanto cuidemos do que já é óbvio a bastante tempo.

Além dos limites ideológicos e estratégicos da principal força política desse campo, é preciso lembrar qual era o cenário de então, o qual, no fundamental, ainda persiste: as forças progressistas criminalizadas, alguns encarcerados, outros cooptados como “cachorros” e mesmo os políticos tradicionais completamente desmoralizados.

Some-se a isso a violência jurídica (como os fatos e as mensagens revelam); uma ampla proteção dos meios de comunicação; absoluta unidade da classe dominante; o ativismo de grupos de extrema direita, cujos arroubos ideológicos reacionários são apenas contidos nos governos progressistas, mas que continuam latente, tal qual “o ovo da serpente”, apenas esperando o calor e a umidade adequada para eclodir; e, então, fica fácil compreender que diante dessa realidade objetiva a tarefa não era das mais simples. Exigia algo muito maior, muito mais convicção estratégica.

Se fica fácil entender a dificuldade de resistência diante do golpe que era tramado à luz do dia, agora é preciso compreender como resistir à própria política que dele decorreu.

Na etapa atual o presidente fez uma opção de estilo: o de querelante congênito, avesso a qualquer pauta que busque conciliação com a nação esgarçada. Se isso é um personagem, uma caricatura, ou efetivamente a essência de sua personalidade e, por decorrência, de seu próprio governo, só o tempo dirá, embora tudo indique ser a sua essência pela predileção que demonstra em humilhar auxiliares, interferir de forma espalhafatosa na gestão de empresas estrategicas, como a Petrobras e o BNDES; insulta o parlamento e faz troça da maioria de seus integrantes – especialmente aqueles que, talvez, até quisessem estar na sua base de apoio parlamentar; debocha do Supremo Tribunal Federal (STF); esnoba os meios de comunicação; retalia quem não segue acriticamente seu fundamentalismo de conveniência; e, tudo indica, se sente bastante a vontade para esnobar a democracia e o próprio estado nacional.

A concertação de direita

Apesar de tudo isso sua pauta avança e o questionamento é inevitável: por que um governo cujo chefe revela, a cada dia, da forma mais explícita possível, que não está apto para a tarefa de governar uma nação importante e complexa como o Brasil, tem conseguido, no fundamental, fazer avançar as suas principais medidas?

A concertação de direita explica. A pauta avança, apesar das trapalhadas do governo, porque há uma grande concertação de direita, das forças reacionárias, em torno dessa agenda de desmonte do estado nacional e de regressão dos direitos sociais. É isso que lhes faz suportar tantas humilhações e até mesmo alguns prejuízos momentâneos.

E explica, igualmente, porque tentam proteger Sergio Moro a qualquer custo. Ele foi um operador destacado desse sistema, que ainda não foi concluído.

Separar as pessoas das instituições!

Mas é preciso separar as pesssoas das intituições. Sérgio Moro e Deltan Dallagnol não são, respectivamente, o Judiciário e o Ministério Público, instituições essenciais ao estado democrático de direito, e que não podem ser destruídas simplesmente porque alguns de seus integrantes resolveram rasgar a constituição do país. Puna-se os criminosos, jamais a instituição que em última análise é igualmente vítima, salvo se ela, deliberadamente, não tomar providências para se depurar.

E essa compreensão é fundamental para que não se repita a estupidez de conveniência desses personagens, os quais, sob o falso pretexto de combate à corrupção, criminalizaram os partidos, os parlamentares, o Congresso Nacional, as organizações sociais e o próprio sistema político como um todo.

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