A semana do presidente 

Quando criança, entre um programa televisivo e outro, sempre aparecia uma chamada, no canal SBT, intitulada A semana do presidente. Na época, a ideia era divulgar, de forma resumida, as principais realizações do principal mandatário do país.

Esta lembrança me veio a tona na manhã de hoje, 16/06. Deste que o The intercept iniciou a série de reportagens que tem colocado em dúvida a imparcialidade da Lava Jato, o quadro político para presidente Bolsonaro (PSL) não tem sido dos melhores. Explico.

O Supremo Tribunal Federal (STF), depois de um bom tempo, delibera e tipifica a homofobia como crime, a exemplo do que acontece com o racismo. Como se sabe, Bolsonaro (PSL) emitiu opinião contrária a decisão tomada pelo STF, o que só comprova, mais uma vez, que é um político homofóbico.

Na semana passada, quatro integrantes do alto escalão do governo, sendo 3 militares, foram demitidos por causa de divergências políticas ou ideológicas. Falo do presidente dos Correios, o Gal. Juarez Aparecido de Paula Cunha, do presidente da FUNAI, o Gal. Franklimberg Ribeiro de Freitas, do presidente do BNDES, Joaquim Levy, e do ministro da Secretaria do Governo, Gal Santos Cruz. Este, talvez, seja a perda mais significativa. Ele fazia parte do núcleo duro dos militares mais próximos do presidente, o que tem motivado reações, sejam do próprio Gal. Santos Cruz ou da ala militar.

Outro momento foi a apresentação do relatório final da Reforma da Previdência. O deputado Samuel Moreira (PSDB) apresentou o parecer na última quinta-feira, 13/06, e defendeu propostas que contrariam a governamental. Por isso que a reação foi imediata. O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a nova reforma da previdência pode ser abortada pelos deputados caso prevaleça a opinião do deputado tucano. Ao refutar a fala do ministro, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), rebateu a acusação e disse que o governo é uma usina de crises. A situação ficou tão tensa que Bolsonaro (PSL) tentou minimizar o atrito, a ponto de afirmar que a bola está com o parlamento.

Para agravar a semana do presidente, a manifestação, convocada pelas centrais sindicais (CUT, CTB, Força Sindical, Conlutas, etc.), aconteceu nas principais cidades do país, cumprindo o objetivo principal, a saber, denunciar a retirada dos direitos dos trabalhadores com a proposta governamental de reforma da previdência.

Diante do cenário, o presidente tentou pegar carona na popularidade da seleção brasileira de futebol e foi aos estádios Mané Garrincha e Morumbi para assistir os jogos da seleção pentacampeã mundial. Além disso, pediu para seus apoiadores pressionar os senadores a apoiarem o decreto presidencial que flexibiliza a posse e o porte da armas no país, decreto que foi rejeitado pela Câmara dos Deputados. É a tática, respectivamente, de grudar a imagem no esporte mais popular do país e de emular a tropa.

Por fim, no sábado (15), na cidade de Santa Maria (RS), defendeu que a população precisa estar armada para defender a liberdade. Admitiu, inclusive, que o porte e a posse de armas servem para resistir a governos absolutistas.

Pelo visto, o presidente Bolsonaro (PSL) vai assumindo, cada vez mais, seu espírito bélico e autoritário, demonstrando ter sérias dificuldades para conviver com o contraditório. Entra em rota de colisão com o STF, Congresso Nacional, movimentos sociais e, a grande novidade da semana, com os militares. Aparentemente, parece ser uma postura anti-establishment. No entanto, é o velho estilo “para os amigos, tudo, ao inimigos, a lei” entrando em jogo, sendo que, neste caso, a lei pode muito bem ser substituída pelas armas e pela perseguição.

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