Um complô comprovado
"Moro, Dellagnol e auxiliares se constituíram num grupo político militante que agiu de maneira articulada e autônoma, ao arrepio das normas processuais".
Publicado 10/06/2019 11:38
“Em sociedade tudo se sabe“, é o velho adágio originariamente atribuído a um cronista social.
Sabe-se mesmo — sobretudo em tempo de redes sociais, aplicativos e hackers.
As revelações do The Intercept_ Brasil acerca das relações promíscuas (legalmente proibidas) entre o então juiz Moro e o procurador Dellagnol confirmam o que a defesa de Lula denuncia há tempo e opinião pública internacional reverbera: o ex-presidente foi vítima de um processo contaminado por irregularidades jurídicas e de nítido intuito político.
O próprio Moro, atualmente no gozo da premiação a que fez jus — o cargo de ministro da Justiça —, reconhece a gravidade das revelações ao emitir nota pública, claramente na defensiva, afirmando que os seus diálogos com o procurador, agora publicados, estariam “fora do contexto“.
De acordo com a Constituição, o trabalho realizado pelos procuradores da operação Lava Jato não pode receber nenhuma interferência dos juízes. A uns cabe investigar e, se for o caso, acusar; aos juízes cabe julgar — presumivelmente com a isenção necessária.
Mas na prática Moro, Dellagnol e auxiliares se constituíram num grupo político militante que agiu de maneira articulada e autônoma, ao arrepio das normas processuais. E interferiu diretamente nas eleições presidenciais, através do afastamento do ex-presidente Lula da disputa, o maior favorito nas pesquisas, então.
Na verdade, o papel de Moro e dos procuradores da Lava Jato tem implicações mais amplas, e vem desde o golpe que afastou a presidenta Dilma.
Denunciar essa gente é parte indissociável da luta pela preservação do Estado de direito em derrocada, fio condutor da luta democrática na atualidade.