Axé, deputado

O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), autocandidato a presidente da República, voltou a atacar o estado laico, com o ódio e sectarismo que lhe são peculiares. Ele disse que, em sua opinião, a maioria do povo brasileiro é cristã e que “os incomodados que se retirem”.

Ele tinha endereços certos, já em primeiro plano: os muçulmanos e os seguidores de religiões africanas. Contudo, não deixou claro se esse estado cristão por ele defendido excluiria os cidadãos que professam outras fés religiosas apenas das esferas do poder ou até mesmo das fronteiras nacionais.

De todo jeito, uma vez mais o parlamentar faz declarações com forte carga racista, pois se dirige a negros e as comunidades árabes e asiáticas seguidoras do islamismo. Não precisa mais pra que a gente suponha o que faria um sujeito desses se chegasse ao maior cargo do país, nas por certo seria algo de fazer inveja às perseguições da Alemanha nazista.

O que é espantoso, entretanto, é que a última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada semana passada, o coloca em segundo lugar nas pesquisas pra presidente da república em uma eleição direta. Segundo esses dados, Bolsonaro ficaria em segundo lugar no primeiro turno de um pleito em que teria a metade dos votos de Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo que com chances remotíssimas num segundo turno contra Lula, é de espantar que posições dessa natureza obtenham o apoio de parcela significativa do eleitorado. Em especial pelo fato de que a questão é ideologizada, fazendo com que a manutenção do estado afastado das igrejas e das religiões seja interpretada como uma posição da esquerda.

Ademais, essa é uma visão completamente equivocada do ponto de vista histórico, já que a liberdade religiosa é um preceito constitucional brasileiro desde a primeira Carta, aprovada em 1824, dois anos após a Independência. E reafirmado em 1889, na Proclamação da República.

Em verdade, foi a Revolução Francesa, iniciada em 1789, que consolidou a ideia de separação do estado da religião, com um poder laico, sob o lema da liberdade, igualdade e fraternidade. Estava ali sacramentado o papel do estado como protetor do cidadão, independente de seus credos. Mas o tema continua atual, ao que parece.

Os franceses se inspiraram nas revoluções inglesa, de um século antes, e norte-americana, de 1776. E o conceito democrático ganhou o resto do mundo ocidental. A Revolução Russa e, depois, as da Ásia, como a chinesa e a vietnamita, baseadas na teoria marxista, reforçaram ainda mais essa separação.

Em Cuba, onde de igual modo foi implantado na década de 1950 um regime de inspiração marxista, o estado também é laico, mas todo cidadão tem direito a cultivar seus credos. Religiões de todos os matizes são exercidas com liberdade. Aliás, quem andar por Cuba inteira verá, como eu já vi, talvez mais terreiros de candomblé do que na Bahia, proporcionalmente.

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