Algumas palavras sobre cultura e política (parte 9)

Como dito anteriormente (Cf. Parte 8 desta série): “O golpe da plutocracia global, como vem sendo descrito, força os sistemas ao paradigma de 'democracias totalitárias' (HARVEY, 2014), ou aquilo que vem sendo chamado de ampliação do Estado de exceção permanente (AGAMBEN, 2013)”. Uma boa justificativa para realização de protestos em todos os cantos do mundo, correto? Levantes de multidões que ocorreram no Brasil da mesma forma que na Venezuela, Ucrânia, Síria, Líbia, e em tantas outras nações entre 2011 e 2013 (Cf. Parte 3 desta série).

Mas, reunidos nas ruas, são claras as razões e objetivos dos manifestantes? Ou “seguiram por discursos que eram verdadeiras emboscadas”? (Cf. Parte 8 desta série). Por que se levantam? E quem comanda as multidões desgovernadas?

A perda de poder da sociedade civil denunciada por Žižek (2011), diante do que chamou de fim do casamento entre democracia e capitalismo, soma com outros aspectos dessa crise que vem levantando multidões, como exemplo o afunilamento da renda e aumento das desigualdades (em especial o surgimento da casta dos bilionários e o eminente fim da classe média). O que, segundo David Harvey, promoveu um enorme descontentamento por todos os cantos, mas em nenhum desses “lugares emergiu um movimento consolidado em termos de um entendimento de para onde esse descontentamento deve ser canalizado e o que deve ser feito para mudar esse quadro” (HARVEY, 2014).

Enquanto as multidões agem, as massas (o povo) não sabem que “PODEM” mudar (começando pela reforma política e da comunicação), nem fazer diferente, ao se desligar do sistema político tradicional, por isso se sujeitam aos discursos plantados por interesses internacionais, que por aqui surgem disfarçados em projetos sociais, ataques da imprensa, vídeos, sites, e fake- ativistas que em listas difundem a propaganda bem planejada, que revelam as burocráticas revoltas de fundo político e corporativo que operaram nos bastidores. No Brasil, por um ano, entre 2012 e 2014, ativistas se perderam em si mesmos, enquanto tentavam encontrar pelo que lutar, apesar da grande luta obscurecida nunca ter deixado de assombrar o mundo desde 1848.

E essa falta de reação contra o próprio sistema econômico (sendo foco das marchas o sistema político) decorre no Brasil de diversos fatores como: o sequestro de movimentos (amorfos), através de agitação de redes (apoiadas por consultorias de sucesso e gerações de grande valor), através de virais espontâneos (com vídeos fabricados por produtora de escola de inglês), que inflacionam os atos (coordenados por partidos de oposição). Enquanto a grande mídia jogou a opinião pública contra o governo (manipulação revelada pelo Manchêtometro, UERJ, 2014). Ações que resultaram em encontros de diversos grupos opostos para passeatas (sem rumos) que pregam a frase #SemViolência (chavão do libreto de Gene Sharp), com material panfletário organizado (por Ong especializada no negócio das revoltas), por agitadores sem rosto (cooptados em movimentos de rude boys, anarco fascistas e membros de torcidas organizadas, acostumados com a violência e quebradeira). Ativistas que estariam nas ruas por vontade própria (ainda que tenham sido pagos com rabanada) afirmando terem ideologia anarquista (um método o qual não dominavam, mas que poderia justificar qualquer “ação direta” contra às instâncias democráticas). Criando tumultos que geraram manifestos espetaculares (convertidos pela mídia para seus fins), e que sendo combatidas com violência (por uma polícia despreparada, que contava com P2 disfarçados no outro lado da linha), conquistaram seus objetivos políticos (caos e instabilidade social), desestimulando as multidões que saíram das ruas (aqueles que lá nunca estiveram). O conflito migrou para redes sociais em diálogos (ofensas e agressões verbais), enquanto as “massas médias” acompanham tudo pela televisão (sem notar que são atingidos pela bomba semiótica, lançada pelas forças econômicas de interesses internacionais contra a democracia). Um saldo que é insistentemente vendido como positivo por alguns movimentos, bem como capitalizado pelas forças golpistas de Washington.

Aos articulistas que criticam as manifestações falta o reconhecimento da legitimidade das causas populares, e de que as dores cotidianas são a verdadeira razão de tantas revoltas. Ainda assim, sem cegueiras ou paixões, precisamos perguntar: como surgiram as tais manifestações tidas por espontâneas? De um lado, poderosos grupos econômicos geram as pressões que forçam as massas que reagem, e de outro, através de diversos organismos de cooperação, somando a políticos corruptos e mídia, jogam as massas contra as suas nações. Em seguida se valem da instabilidade política, para impor suas condições de ampliação da exploração, enquanto os Estados se forçam a agir com mais violência para controlar as massas, que já são injustiçadas e exploradas. Não raro, acabam em guerras civis ou encontrando o fundamentalismo.

Os protestos com origens nas massas anômalas e anônimas não surgem, portanto, do nada, da mesma forma que não surgiram em Cuba, onde foram detectadas atividades suspeitas, vindas do Twitter alternativo “Projeto Zunzuneo” instalado na ilha pelos EUA, com objetivo de derrubar o sistema político, através de agitação e propaganda subversiva. Ação que não deu certo, mas não difere das manipulações que o Facebook admitiu ter feito com 700 mil usuários em uma experiência cognitiva, que provocaria alterações de humor, admitida pela empresa em julho de 2014.

O mesmo se repetiu no Brasil. As multidões, não tendo criado seus próprios discursos, ao terem saído às ruas, foram engolidas pelo material promocional distribuído por ONGs (pago por quem?) que dizem a mesma coisa em todas as partes do globo: “Ocupe”, “Sem Violência”, “Basta”, “Mude”. Sigam as faixas e palavras e irão encontrar, pois existem até manuais pré-moldados para as revoltas, um grande negócio das revoluções vendida pela assessoria Otpor/Canvas de Belgrado. Gritaria que tinham por objetivo sujar a imagem brasileira, como bem disse e quase fez Mr. Maia do Change Brazil (um destes movimentos fabricados).

Com suas placas em mãos, gritavam “Sem violência”, fala extraída da cartilha do anarco-capitalista Gene Sharp, que é fundador do Instituto Albert Einstein com fortes relações com o especulador internacional George Soros. Suas ações através da Open Society, Instituto Republicano Internacional, Freedom House, e apoio da USAID (que a imprensa internacional acusa de acumular diversas funções que eram características de ações da CIA), contribuíram para uma série de revoluções “de cores”, tanto na Europa Oriental, quanto na Ásia Central após a dissolução da União Soviética.

Enquanto gritavam “sem violência”, black blocs e P2 orientados (cooptados) criam o caos (em uma dança coreografada), para gerar a indignação. Vídeos e memes ensinam como fazer revoltas, filmar, e até o que deve ser dito, ao menos é isso que ensinam na cartilha (SHARP). Alguma semelhança com a realidade?

Quem são aqueles que assumiram as revoltas no Brasil? Enquanto as multidões desgovernadas procuravam como escapar das bombas da tropa de choque, outros mascarados orientados pela cartilha Sharp, quebravam, carregaram bandeiras brasileiras e cartazes pré-moldados. Mas Anonymous e Black Blocs se entregaram quando em frente ao templo da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), cantaram o hino brasileiro enquanto a fachada recebia projeções da bandeira nacional. Estes são os mesmos Yellow Blocs que xingaram o povo, a presidente, os pobres e a nação (Cf. Parte 2 desta série). Não imaginem que exista aqui alguma contradição, quem assumiu no Brasil a assessoria das revoltas são os herdeiros, netos e bisnetos da M.M.D.C de 1932, Integralistas, Udenistas, organizadores da Marcha da Família e golpistas de 1964. As multidões são amorfas (protestavam pelo Passe Livre), sem saber, foram sequestradas por cartilha de revoltas enviadas pelos EUA (via Belgrado), que estavam nas mãos de fascistas!

Algumas organizações podem estar sendo usadas sem saber, apresentam até nos cartazes, propagandas e perfis de redes sociais os mesmos discursos e simbologias. As imagens divulgadas pela Anistia Internacional do Brasil não se diferem do material do Ocuppy Brazil, que não se diferem das páginas do Anonymous, Médicos sem Fronteiras, DDH, Advogados Ativistas, Revolta Brazil, Change Brazil, FIP, e outras. Organizações que assumiram para si a dialética discursiva do nacionalismo às avessas, como retórica da destruição da imagem do Brasil, através de denúncias aleatórias e sistemáticas.

Muitas campanhas de Ongs são peças de propagandas bem estruturadas e usadas na defesa de causas variadas, mas que, ao invés de delimitarem os problemas sociais, sempre apontam para a nação brasileira (em qualquer tipo de problema local), como forma de constrangimento ao Estado, apontando em todos os seus materiais contra o nome e imagem do Brasil. As bombas semióticas são distribuídas através de peças publicitárias em diversas nações que endossam tais materiais promocionais da “sujeira” e retornam com imagens “solidárias” e textos “emocionais” assinados por voluntários da mesma rede em outros lugares do mundo, gerando a sensação tanto de comoção internacional, quanto de uma suposta situação degradante e imoral brasileira. Quem não se lembra de imagens de pequenos agrupamentos segurando cartazes apoiando os manifestantes brasileiros em outros cantos do mundo? Ou fotos de celebridades segurando cartazes escritos #ChangeBrazil?

O Brasil, uma das poucas nações do mundo que enfrentou bem a crise econômica global do começo da década, estava em uma situação de caos completo, digno de protestos e de comoção nacional e internacional? Uma contradição que só tem por explicação a razão de que todas as organizações localizadas ou têm financiamento ou são parceiras das organizações internacionais que têm interesses nos recursos nacionais.

Hipóteses que foram levantadas (Tem cabo Anselmo aos montes nas ruas. Conversa Afiada, 19/06/2013). Mas que ganharam mais sentido quando a agência Associated Press (AP) divulgou mais de mil documentos sobre a agitação ter origem na “Agência dos Estados Unidos para a Assistência Internacional” (USAID) cujos objetivos têm sido tornar-se popular entre jovens através das redes, campanhas, bolsas para voluntários, fomento a parceiras, para depois “empurrá-los para a dissidência” política em seus regimes. Casos similares, confirmados por Cuba, sobre esquemas desestabilizadores equivalentes aos aplicados em países como a Síria, Ucrânia e Venezuela, onde ocorreu cooperação de organismos de inteligência dos EUA e suporte de sofisticadas tecnologias de cognição nas redes sociais para influenciar a população jovem. Não seria nada de novo, considerando o teor das informações vazadas pelo ex agente Edward Snowden (refugiado na Rússia), que retratou como ocorreu desde 2010 a aproximação do Facebook com o programa de espionagem em massa da NSA, revelado em junho de 2013 (Prensa Latina). Tampouco seria novidade tantos indícios de manipulação das manifestações, não fosse as denúncias do WikiLeaks de Assange, confirmarem a ação direta dos EUA no golpe de 1964, e que recentemente o governo foi espionado. Ação de espionagem que vem sendo admitida pelo governo brasileiro, acabou gerando um incidente internacional, e rendeu a aprovação em regime de urgência da lei do Marco Civil da Internet.

A liberdade de expressão, a dignidade humana, a privacidade, estão se tornando elementos que não fazem parte do repertório das democracias modernas, pois projetos como PRISM e MONSTER MIND (EUA), após revelados por Snowden, demonstraram que não apenas somos vigiados como, no fundo, podemos ser manipulados, censurados e ter até nossas comunicações apagadas por estes sistemas robôs (WIRED, agosto de 2014). As multidões foram para as ruas? Ou as redes levaram os ativistas de sofá para as ruas? Quem comandava as redes? Eis a questão…

*Quem ainda tiver alguma dúvida, favor assistir o documentário “The Revolution Business”.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor