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Com expansão de 50%, PCdoB está pronto para crescer com qualidade

 Às vésperas da realização de seu 12º Congresso, o PCdoB mostra-se coeso e em expansão. De 2005 para cá, cresceu 50%. Agora, se prepara para enfrentar um novo e importante momento: organizar e formar sua militância para lutar por um novo projeto nacional de desenvolvimento, caminho brasileiro para o socialismo. O PCdoB “está preparado para crescer”, diz Walter Sorrentino, secretário de Organização. Nesta entrevista, ele traça um panorama do processo congressual e dos novos passos dos comunistas.

Walter Sorrentino, outubro de 2009

Permanente atividade política

“As conferências estaduais foram extremamente positivas embora diferentes com respeito a congressos anteriores e às nossas tradições. Essa diferença reside no fato de que hoje o partido é muito mais influente em todas as áreas: na vida política, cultural, intelectual, social e de Estado. De modo que o PCdoB tem se colocado em permanente atividade política no seio da qual o 12º Congresso teve de se inserir. Foram três meses de mobilização em que o partido não parou para o congresso, mas sim intensificou suas atividades e, ao mesmo tempo, os debates congressuais, o que torna o nosso balanço ainda mais positivo. Afinal, é uma fase muito complexa e o partido não se perdeu; não deixou de se focar naquilo que era prioridade no seu congresso. E é positivo também porque apesar de todas essas atividades, do pouco tempo, de uma maior extensão das fileiras partidárias e de um nível muito maior atividade política, o processo foi tão ordenado ou mais do que se caracteriza a vida do PCdoB”.

Momento privilegiado de debate

“Os processos congressuais do PCdoB sempre foram momentos privilegiados de troca de ideias. Iniciamos em julho com a mobilização de debates nas capitais que somaram cerca de quatro mil quadros do partido para liderar as discussões nas fileiras partidárias. Depois, fizemos uma série de mesas de discussões e intercâmbios entre os mais diversos segmentos de ponta da vida nacional para discutir aspectos variados do programa. Em seguida, vieram as conferências municipais, cerca de 1.700 ao todo, o maior número que já alcançamos e imagino que tais eventos possam ter eleito um corpo de mais de 20 mil dirigentes municipais que são quadros intermediários. O ponto alto do processo foram as conferências estaduais, de grande incidência na vida política, muito prestigiadas, que mobilizaram, sozinhas, mais de 10 mil delegados. Ou seja, esse processo mostra que de fato o partido acumula opiniões desde baixo para cima. Nas assembleias de base, por exemplo, foram duas mil pessoas reunidas apenas nos grandes municípios. Quando chegamos na plenária final, revela-se uma grande unidade de pontos-de-vista porque as opiniões já foram construídas. Imaginamos que vamos terminar o congresso com alto grau de unidade em torno das deliberações”.

Partido organizado e massivo

“A minha ideia é essa: o partido comunista de massas que estamos construindo pode e precisa ser mais organizado a partir da base. Há uma leitura enviesada segundo a qual um partido comunista de massas é mais desorganizado. Ao contrário: quanto mais extensas as fileiras do partido, mais se permite organizar atividades de base pelos diversos tipos de atuação e mais se exige isso também porque se não o militante não tem onde exercer os seus direitos e deveres e nem formar seu pensamento político. O processo atual revela um partido muito cioso, com muita clareza no que precisa ser feito para que o PCdoB se torne um partido de massas”.

Evolução de 50%

“Temos crescido 25% de um congresso a outro, do 9º Congresso (1997) para o 10º (2001) e do 10º para o 11º Congresso (2005). O 10º foi um pouco antes da vitória de Lula; o 11º foi um pouco antes da reeleição de Lula. Agora a escala de aceleração é muito maior porque crescemos mais de 50% e somos um partido mais organizado hoje do que antes. Isso é um dado bastante relevante. São poucos os partidos que podem exibir uma taxa de crescimento nesta faixa de um congresso para outro, num intervalo de apenas quatro anos mostrando, portanto, que se preparou não apenas politicamente, mas também ideologicamente e organizativamente para poder crescer. O PCdoB sabe o que quer e o que precisa fazer para crescer de maneira consistente. Chegamos neste ano a 250 mil filiados segundo o TSE. Porém, mais relevante do que isso é que os cadastros internos – que são mais realistas – apontam para 203 mil inscritos no partido, dos quais participaram 102 mil militantes organizados em algum nível de debate. Não se trata de baluartismo, mas estas são marcas bastante expressivas sob qualquer ângulo que se verifique”.

Partido ainda pequeno

“Agora, como aumentou o protagonismo e a incidência política do partido na vida do país, a gente compreende que esses êxitos refletem a superação de alguns desafios, mas também colocam a necessidade de se enfrentar outros. O PCdoB ainda é um partido pequeno para lutar pelas teses que aprovaremos no 12º Congresso, particularmente no Programa Socialista. É um partido médio do ponto-de-vista da ação social e de sua organização, mas do ponto de vista eleitoral ainda é modesto, de modo que deve persistir a orientação de se abrir suas portas para fortalecê-lo política e eleitoralmente e, ao mesmo tempo, fazer um grande esforço ideológico e organizativo para formar uma militância comunista de fato. Este é o maior desafio da nova direção no próximo período. Acredito que se alcançarmos mais uma vitória popular nas eleições de 2010, podemos ser um partido de 500 mil membros ou mais. O PCdoB é um partido que está preparado para crescer”.

Três questões mais debatidas

“Ao longo desse debate congressual, tivemos muito mais convergências do que divergências. Destacaria ao menos três conjuntos de questões que me parecem ser as mais salientes e que mais mobilizaram a inteligência do partido. O primeiro conjunto de questões diz respeito a esta articulação entre um terceiro salto civilizatório no Brasil, a centralidade da questão nacional – ou seja, a realização de um novo projeto nacional de desenvolvimento – e a ligação de tudo isso com o socialismo. Acredito que chegamos num grau de maturidade muito grande nesse terreno porque o partido compreende que tão importante quanto reafirmar o rumo – e o do PCdoB é o socialismo – é apontar o caminho. Sem um caminho, o rumo se torna uma mera pregação doutrinária, abstrata. Por sua vez, o caminho sem um rumo definido torna-se um movimento sem destino. Para se chegar ao socialismo, o caminho é um novo projeto nacional de desenvolvimento soberano, democrático e solidário. E tanto esse rumo quanto esse caminho precisa estar de acordo com as características brasileiras. Daí a ligação com o terceiro salto civilizatório, ou seja, no processo secular de constituição da nação brasileira, estamos diante de novas exigências, assim como aconteceu na Independência (1822) e no ingresso do Brasil na modernidade (anos 1930). O país tem condições de dar esse terceiro salto. Estes três saltos reunidos configuram o que chamamos de caminho brasileiro para o socialismo, o que aparece agora com muita nitidez não só perante os comunistas, mas perante o povo, numa linguagem simples, clara, direta, como continuação de nossa história secular. É esta ideia central que faz com que o programa represente uma esperança muito concreta para o povo”.

Nação unida

“O segundo foco de concentração das atenções foi a noção de povo uno, de nação unitária com território e população continentais. Esta ideia é muito importante porque as elites sempre alimentaram no Brasil – e parte da esquerda assimilou isso – um sentimento de negativismo com respeito à trajetória de lutas de nosso povo. Segundo esta concepção nada teria valido a pena. Mas, não se pode deixar de reconhecer que apesar de todas as dificuldades enfrentadas, a nação, nesses 187 anos de Independência, deu passos enormes que devem orgulhar os brasileiros porque o herói desses passos foi justamente o nosso povo. O negativismo, neste caso, é uma forma de desacreditar nossa própria força. Quando compreendemos isso, percebemos também a necessidade de unir cada vez mais o nosso povo. Contradições, tensões e discrepâncias são inevitáveis na sociedade. Mas, a gente precisa arbitrá-las visando sempre a unidade em torno de um novo projeto nacional porque essa grande luta exige amplas forças e no seio dessas amplas forças tem de estar a unidade do povo. Se nos dividirmos, seremos presas mais fáceis dos interesses imperialistas, financeiros, rentistas e especulativos, forças estas que mandam no mundo hoje. A noção de um povo uno tem a ver com uma grande corrente de caráter nacional, democrático e popular. Nosso povo não é constituído de frações que se juntaram; somos um povo uno que se miscigenou e que deu ensejo a uma cultura singular. Não somos cópia de outros povos”.

Novo Programa

“O terceiro grande tema que mobilizou o debate do 12º Congresso é o caráter do novo Programa Socialista proposto, de caráter anti-imperialista, anti-latifundiário e antioligarquia financeira. Os interesses das oligarquias financeiras hoje são os mais poderosos porque ditam a dinâmica da reprodução do capital; são as forças que dão base ao imperialismo, sobretudo o norte-americano – que está em crise, mas ainda é muito poderoso. Para alguns, o fato de restringirmos tanto o alvo poderia dar a entender que não se deve lutar contra todo o capital. Na verdade, para você enfrentar esse alvo e derrotá-lo já está prevista uma árdua luta. Se combatermos ou mesmo destruirmos a fração dominante do capital, evidentemente estaremos afetando o conjunto do edifício da reprodução do capital. Longe de parecer, portanto, menos avançado, o novo programa vai ao coração do problema: o interesse das corporações financeiras internacionais do imperialismo norte-americano. Esta oligarquia financeira é o núcleo duro do capitalismo contemporâneo; colocá-lo como alvo principal denota clareza de com que forças devemos nos defrontar”.

Trabalhadores como classe dominante

“Essas três questões possibilitaram ao partido compreender que o nosso programa representa um projeto da classe operária, do povo trabalhador; ou seja, a tentativa de estruturar a classe dos trabalhadores como a classe nacional dominante na sociedade nas condições contemporâneas que se resumem, essencialmente, em lutar pela soberania, pelo desenvolvimento, pela democracia, por uma sociedade solidária que distribua os frutos desse desenvolvimento”.

Um instrumento para esta luta

“Bom, se temos um projeto claro e um programa que norteia esse projeto, precisamos então reunir forças, como disse antes, por meio da união do povo. Mas, para isso é preciso um partido de esquerda consequente e, neste sentido, era preciso também discutir a essência deste partido, que é a política de quadros. Para nossa alegria, mais uma vez se forjou, em torno dessa proposta, um consenso bastante firme. O documento representa certa superação dialética: ao mesmo tempo em que preserva os elementos centrais de nossa tradição, renova estes elementos dentro de uma nova configuração. Ou seja, é um documento que representa uma pequena revolução em como a gente concebe a vida da militância e a construção partidária”.

Preconceito estúpido

“Os comunistas sempre foram tratados – e continuam sendo – com um preconceito estúpido. O partido é visto como uma instituição monolítica em que não há liberdade de opinião, em que o indivíduo se subordina absolutamente ao coletivo. Esse tipo de preconceito não permite enxergar que o PCdoB é um partido extremamente moderno e democrático em que existe completa liberdade de opinião sob a regra de se forjar uma única posição política a cada momento, dentro das circunstâncias políticas democraticamente estabelecidas. Por isso disse, certa vez, que o PCdoB pode surpreender o país porque o preconceito faz com que muita gente não perceba o quanto se está avançando na reformulação de uma tradição que a gente não abandona – porque consideramos ser uma saudável ortodoxia em termos de pensamento de partido – mas ao mesmo tempo se renova com espírito aberto”.

Balanço da direção nacional

“O 12º Congresso vai também apreciar o balanço das atividades da direção nacional que reflete o que dissemos no início: vivemos uma fase inédita na vida do partido não apenas em termos de magnitude e de inserção na vida política geral do país, mas também no que diz respeito à maturidade que alcançou em seu pensamento político e de partido. A soma desses fatores resulta neste momento que acredito ser o melhor da história do PCdoB nesses 87 anos de vida. Sim, ainda somos um partido pequeno, mas quando se tem uma concepção boa, um programa adequado e uma política clara, crescer é uma questão de tempo. O balanço, portanto, é muito educativo para todos os militantes. Estes últimos quatro anos foram cheios de realizações, o partido alcançou outra magnitude em todos os terrenos, na luta política, social ou de ideias e na estruturação partidária. Mas, mais do que isso, foram realizações extraordinárias porque a quadra política que o país atravessa com o segundo governo Lula é mais favorável. Mesmo assim, poderia ocorrer de não termos um partido com um pensamento ajustado para aproveitar essa condição favorável e o partido soube aproveitá-la. É um balanço marcado por enorme dinamismo político, pela inserção crescente dos comunistas nas lutas do povo e por uma estruturação marcada por enorme ousadia de renovar o partido e inseri-lo na realidade brasileira”.

Maior organização militante

“No entanto, o balanço existe também para apontar lições e há indicações daquilo que o novo Comitê Central deverá aquilatar no sentido de dar continuidade a essa marcha fortalecendo ainda mais o partido. Tendo chegado a tal magnitude das fileiras partidárias e a tal maturidade, precisamos de um grande esforço de organização da militância comunista desde a base e esta é uma questão que o próximo mandato terá de enfrentar de maneira mais elevada a partir de uma boa política de quadros que será aprovada e de um grande esforço organizativo para tocarmos a devida dinâmica nas bases do partido, um partido que tem que se construir desde baixo até em cima”.

Da redação,
Priscila Lobregatte

Saiba mais sobre o 12º Congresso acessando http://www.pcdob.org.br/12congresso