Vitória de Bolsonaro: erros e insuficiências da centro-esquerda

Evidentemente, a vitória da extrema-direita não se explica apenas pelo êxito de sua estratégia. É preciso também investigar quais insuficiências e erros da centro-esquerda concorreram para a sua derrota.

Por Adalberto Monteiro*

Manuela e Haddad - Foto: Karla Boughoff

O gatilho da vitória de Bolsonaro foi o golpe de Estado de agosto de 2016. Contraditoriamente, podemos falar que o golpe se deu exatamente porque as forças reacionárias de dentro e fora do país concluíram que não seria admissível um quinto governo das forças progressistas. Não seria admissível pelas realizações do ciclo em termos de ampliação da democracia, de afirmação da soberania nacional e da associação de crescimento econômico com a redução das desigualdades sociais e regionais. Mas o golpe seria evitável se os governos Lula e Dilma não tivessem acumulado insuficiências e erros graves. Da parte do PCdoB, os erros destes governos e do próprio Partido estão contidos na resolução do 14º Congresso do PCdoB. Não cabe aqui enumerá-los. A isto se somam erros de estratégia eleitoral e deficiências do conjunto das forças de esquerda.

No processo eleitoral houve um erro – “o pecado original” – que levou à derrota da centro-esquerda: sua divisão. Dividiu-se no primeiro turno e, para agravar, não conseguiu se unificar no segundo turno. Ao se fragmentar, não teve “força gravitacional” para atrair amplas forças democráticas. O PCdoB aprovou no seu 14º Congresso realizado em dezembro de 2017 uma frente ampla impulsionada e liderada pela esquerda. Tanto o Partido quanto sua pré-candidata à Presidência, Manuela D’Ávila, buscaram cumprir o papel de articuladores da frente democrática. Diretamente, Manuela afirmou que para a união das esquerdas sua pré-candidatura não seria óbice. Em 21 de julho de 2018, o PCdoB, em nota aprovada pelo seu Comitê Central, faz um chamado de unidade a PT, PDT, PSB e PSOL. Não se alcançou esse objetivo. O PCdoB, então, resolveu fortalecer o polo que se apresentava mais competitivo: aquele liderado pelo ex-presidente Lula, posteriormente substituído por Fernando Haddad, com Manuela D’Ávila na vice. Decisão que se revelou correta. A chapa Haddad-Manuela foi para segundo turno, foi derrotada, mas obteve 45% dos votos válidos. Desempenho este que lançou as bases à resistência democrática que se inicia agora.

O campo da centro-esquerda demonstrou no processo eleitoral, além do erro de não compreender a necessidade de uma aliança ampla desde o primeiro turno, três importantes insuficiências: 1) Falta de clareza e convicção quanto à necessidade de um projeto de Nação, um projeto nacional de desenvolvimento direcionado a dar respostas aos grandes e fundamentais desafios e problemas do país. Essa lacuna, numa questão chave – o Programa –, deu margem para o ataque da direita de que a esquerda abandonara o Projeto de Nação por pautas identitárias; 2) distanciamento das massas populares das periferias e comunidades das Capitais, grandes e médias cidades que constituem grande parcela do eleitorado brasileiro. Ao se distanciar, deixou o campo aberto para
que absorvessem a narrativa da direita e da extrema-direita disseminada pelos meios de comunicação de massa, pelas redes sociais e, também, por seguimentos religiosos; 3) despreparo para enfrentar a "guerra” midiática nas redes sociais e aplicativos.

Na parte final deste trabalho analisaremos o governo Bolsonaro que vai se configurando a partir dos ministros e principais auxiliares já anunciados.