Depoimento de Odecrecht desmonta tese contra Lula no caso do sítio

O depoimento do empresário Emílio Odebrecht, ex-presidente do grupo Odebrecht, e de Alexandrino Alencar, ex-executivo da empreiteira, nesta quarta-feira (7) à Justiça Federal, desmontou a tese de acusação do Ministério Público Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Emilio Odebrecht - Reprodução

As convicções sem provas do MPF que diz que as obras feitas no sítio de Atibaia – que nem é propriedade do ex-presidente – eram pagamentos de propinas caíram por terra com os depoimentos.

Para o advogado de Lula, Cristino Zanin, os depoimentos "reforçaram que é falsa a acusação do Ministério Público contra Lula, buscando vincular contratos da Petrobras com supostas reformas em um sítio situado em Atibaia que pertence a Fernando Bittar e que foi frequentado pelo ex-presidente."

"Marcelo Odebrecht, que é citado expressamente na acusação como sendo a pessoa que teria oferecido vantagens indevidas para Lula interferir em contratos da Petrobras, afirmou categoricamente que isso não tem 'aderência na realidade', mesmo sendo delator e tendo recebido benefícios do Ministério Público para acusar Lula", enfatizou o advogado.

Segundo Zanin, os depoimentos fortaleceram o que sempre foi afirmado pela defesa de que a narrativa que buscou vincular o ex-presidente a ilícitos ocorridos no âmbito da Petrobras "é totalmente descabida e somente foi construída para submetê-lo a processos e condenações pré-estabelecidas no âmbito da Lava Jato de Curitiba".

Emílio Odebrecht disse em depoimento que tinha uma relação com Lula de mais de 20 anos. Questionado por Zanin, o empresário salientou que mantinha o mesmo tipo de relação que teve com Lula com outros presidentes que o antecederam.

Ele contou que, além de Lula, manteve uma relação de proximidade com o penúltimo presidente da ditadura militar, Ernesto Geisel (1974-1979), e o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002).

Segundo ele, foi essa relação de proximidade que o levou a realizar obras no sítio em Atibaia (SP). Emílio voltou a afirmar, como fez em outros depoimentos, que o pedido para que fossem feitas reformas no sítio partiu da ex-primeira-dama Marisa Letícia, que faleceu em 2017, e chegou a ele por meio do ex-executivo da empreiteira Alexandrino Alencar.

"Como eu disse a Alexandrino: você me trazer isto, mesmo que eu quisesse negar, eu não tenho como negar por todos os ativos intangíveis de mais de 20 anos de convívio com o presidente", disse o empresário.

"Dona Marisa fez esse pedido a ele [Alexandrino Alencar], ele me veio, e eu aprovei. Se eu não tivesse aprovado, hoje nós não estaríamos sentados tratando desse assunto", disse Emilio Odebrecht.

Na linha de tentar criar as convicções sem provas, no depoimento o MPF ainda tentou demonstrar subjetivamente que o ex-presidente do grupo tinha interesses em atender ao suposto pedido e, portanto, era propina. A tese é de que os "ativos intangíveis" citados por Emílio, seria a atuação de Lula para que não houvesse estatização do setor petroquímico durante seu governo, o que era de interesse dos negócios da empreiteira.

Isso porque a estatização da Petrobras – que é uma empresa de capital misto – seria prejudicial à Odebrecht, considerando que a Braskem, um dos braços do grupo, é uma empresa química e petroquímica.

Como era óbvio, Emílio ou qualquer empresário no mundo, não se aproxima de determinadas pessoas do Poder Executivo ou Legislativo por amizade, mas para atender aos interesses de sua empresa.

A participação do empresário Luciano Hang, dono da Havan, na campanha de Bolsonaro, por exemplo, nada tem a ver com amizade, mas com interesses que a pauta de corte dos direitos trabalhistas sejam atendidas. Assim como o apoio da bancada ruralista, que pretende impor a sua agenda de retrocessos, beneficiando os grande agricultores.

No depoimento ficou claro que as obras do sítio nada tem a ver com os interesses da empreiteira. O ex-presidente do grupo afirmou ter conversado com Lula sobre a estatização do setor , mas descartou a relação disse com as obras do sítio.

Alexandrino Alencar também reafirmou em depoimento foi o pedido das obras nada tem a ver com pagamento de propina. Segundo ele, a então primeira-dama disse estar tendo "dificuldades" na reforma, que estava sendo feita por uma empresa ligada ao pecuarista José Carlos Bumlai, e que queria que a reforma terminasse em breve. Ele disse que Marisa teria dito que a reforma era uma "surpresa" para Lula, que não estaria sabendo de nada.

O ex-executivo da Odebrecht disse ter levado o pedido a Emílio no mesmo dia, durante um voo de Brasília para Salvador. No dia seguinte, já teria acionado Carlos Armando Paschoal, diretor da Odebrecht em São Paulo, para tocar a obra.

Lula será ouvido na próxima quarta-feira (14), sendo a primeira vez que o ex-presidente deixará a Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, desde que foi preso em 7 de abril, no caso do tríplex de Guarujá (SP).