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Flip admite rever homenagem à escritora que elogiou o Golpe de 64 

A Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) acusou o golpe. Com a enxurrada de críticas à escolha da poeta norte-americana Elizabeth Bishop como autora homenageada da edição de 2020, a organização da festa ligou um alerta e, num comunicado à imprensa, admitiu que está refletindo sobre a escolha.

Elizabeth Bishop

A Flip 2020 acontece entre os dias 29 de julho e 2 de agosto. Esta será a primeira vez, desde a criação do evento, em 2003, que um escritor estrangeiro ocupa o espaço de maior prestígio na semana de literatura. Apesar de ser conhecida da crítica internacional e tida como uma das maiores poetas do século 20, a escolha de Bishop – liderada pela curadoria de Fernanda Diamant – gerou discussão.

“A boa polêmica faz parte do espírito da festa”, aponta o comunicado da Flip. “A campanha lançada contra a poeta nas redes sociais logo após o anúncio foi bastante expressiva e chamou nossa atenção e escuta. Estamos ouvindo as manifestações de todos e pensando em seu significado com a serenidade que essa questão merece.”

Segundo a diretoria da Flip, a relevância de Bishop para o Brasil e para a literatura foram as razões essenciais para a escolha. “Ambiguidades e contradições são constitutivas de todo artista, fazem parte da condição humana e devem ser debatidas e criticadas na medida de sua relevância para a compreensão das obras de arte”.

Anunciada no dia 25 de novembro, a escolha de Bishop provocou diversas críticas nas redes sociais vindas de leitores, editores e escritores. Além de ser a primeira autora estrangeira a ser homenageada pelo evento, a poeta é lembrada, principalmente, por seus posicionamentos políticos conservadores e até reacionários.

Bishop, por exemplo, definiu o nefasto e criminoso golpe militar de 1964 como uma “revolução rápida e bonita”. Além disso, fez declarações pejorativas sobre o Brasil e parte de sua produção cultural. As fontes são cartas trocadas entre Bishop e seu amigo e poeta Robert Lowell, durante a década e meia que a escritora viveu no país

A escolha da escritora se agrava, na visão dos críticos, por tratar-se de um momento no qual há declarações de membros do governo Jair Bolsonaro a favor da ditadura. Na opinião de Lloyd Schwartz, professor de inglês da Universidade de Massachussetts e especialista na obra de Bishop, o apoio ao golpe foi resultado da influência exercida sobre ela pela arquiteta Lota de Macedo, com quem a poeta viveu uma relação amorosa durante seu tempo no Brasil.

Os 16 anos da vida de Bishop no Brasil terminaram em 1967, com sua viagem a Nova York, seguida pela dolorosa morte de Lota por uma overdose de remédios. Em sua obra, composta por apenas 101 poemas, a busca por um lar é tema constante. No Brasil, seus livros são publicados pela Companhia das Letras – que possui, atualmente, no catálogo Prosa, Poemas Escolhidos e Uma Arte: As Cartas de Elizabeth Bishop.