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Nove filmes para refletir sobre o que estamos fazendo com as crianças

Neste 12 de Outubro, Dia das Crianças, o Prosa, Poesia e Arte apresenta nove filmes com temáticas relacionados à infância. A indicação é do jornalista Marcos Aurélio Ruy. Confira.

Central do Brasil
Filhos do Paraíso (1997), de Majid Majidi, Irã

O filme que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1999 mostra as peripécias de um casal de irmãos para driblar os pais porque o menino de 9 anos perdeu o calçado da irmã quando o levava ao sapateiro. Ele e a irmã mais nova passam a usar o mesmo calçado e, portanto, nunca podem estar na escola ao mesmo tempo, por exemplo. Com delicadeza, magia e realismo, Majidi mostra como os pobres levam a vida no Irã – e como deveria ser a vida sem essa chaga, em que as crianças pudessem usar sua imaginação para fantasiar brincadeiras e em sua dedicação aos estudos.

Menino Maluquinho – O Filme (1995), de Helvécio Ratton, Brasil

Baseado no livro O Menino Maluquinho (1980), de Ziraldo, Ratton capta a mensagem do cartunista e escritor mineiro, que completa 87 anos no dia 24 deste mês. Livro e filme reforçam a necessidade de que as crianças tenham uma infância plena e feliz, podendo voar em fantasias próprias dessa fase da vida. As crianças precisam levar uma vida cercada pelas pessoas que as amam e protegidas de qualquer tipo de violência. Para isso, as condições básicas da vida familiar devem estar resolvidas e a criança deve ter afeto e liberdade para se desenvolver plenamente e ser um adulto feliz.

Indomável Sonhadora (2012), de Benh Zeitlin, EUA

O título original, Beasts of the Southern Wild, foi traduzido em Portugal como Bestas do Sul Selvagem – e, no Brasil, recebeu o título de Indomável Sonhadora. O Sul é a região que lutou para manter a escravidão na Guerra da Secessão, de 1861 a 1865, nos Estados Unidos e ainda hoje se ressente da derrota para o Norte. Por sua atuação, a atriz mirim Quvenzhané Wallis concorreu ao Oscar de Melhor Atriz, em 2013, tornando-se, ais 9 anos, a indicada mais jovem da história da premiação de Hollywood. É um raro filme norte-americano a mostrar a pobreza existente na nação mais rica do planeta. A menina fantasia para sobreviver em meio à devastação causada por uma forte tempestade, enquanto o pai, doente, está pouco propenso a resistir à doença.

Esteban (2016), Jonal Cosculluela, Cuba

O protagonista dessa obra cubana é um persistente garoto de 9 anos, que não mede esforços para realizar o sonho de sua vida: ser músico. Ao retratar o orgulho que os cubanos sentem da música local, o diretor Cosculluela se identificou com o roteiro de Amílcar Salati e realizou uma obra contundente em apresentar a importância dos sonhos na vida das pessoas, principalmente das crianças. A realidade cubana transparece em toda a película. “A história é íntima, universal e muito humana. O protagonismo era da criança, da própria história, da música, não do contexto”, afirma o diretor.

O Contador de Histórias (2009), de Luiz Villaça, Brasil

Baseado na história real de Roberto Carlos Ramos, O Contador de Histórias mostra a inocência ultrajada de uma mãe que entrega seu filho, de 6 anos, aos “cuidados” da Febem, levada por uma propaganda da ditadura (1964-1985). O anúncio mostra a prisão de crianças e jovens “infratores” como um local acolhedor e educacional. O menino, porém, se depara com uma realidade bem diferente e aprende a sobreviver nesse mundo-cão, juntando-se a outros meninos e fugindo dos castigos da instituição repressora. Escapa dessa vida ao se encontrar e ser “adotado” por uma pedagoga francesa que desenvolvia uma pesquisa sobre a vida das crianças brasileiras. Comovente e revelador, o filme relata as consequências da desinformação sobre a vida das pessoas, mesmo as bem-intencionadas. Revela também o descaso da ditadura fascista com a vida dos mais pobres.

A Língua das Mariposas (1999), de José Luís Cuerda, Espanha

O filme remonta a um período antes da ascensão de Francisco Franco (1892-1975) ao poder, marco inaugural de uma feroz ditadura. Mostra o medo do protagonista ao frequentar a escola e se assustar tanto com o tamanho do prédio quanto com os métodos de repressão. O professor se aproxima do garoto e o ajuda a superar esse medo e o leva a se apaixonar pelos estudos. O filme debate o papel que um professor pode desempenhar para levar as crianças a gostarem da escola ao se contraporem às ações repressivas.

Central do Brasil (1998), de Walter Salles, Brasil

Último filme brasileira a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1999, Central do Brasil relata as peripécias de um menino à procura de seu pai no Nordeste, após ver sua mãe morrer atropelada por um ônibus no Rio de Janeiro. Ele é ajudado por uma professora aposentada, que ganhava a vida escrevendo cartas para os frequentadores da estação de trem da Central do Brasil, na capital fluminense. Com uma interpretação magistral de Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar de Melhor Atriz, o filme mostra a situação de milhões de crianças sem o nome do pai no registro de nascimento. Os homens abandonam as mulheres após elas engravidarem. Trágico, mas real.

A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005), de Tim Burton, EUA, Reino Unido, Austrália

A refilmagem de A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Tim Burton, rejuvenesce a história de um milionário excêntrico à procura de um herdeiro para a sua fábrica. Muitos meninos são sorteados e têm o caráter e a ética postos à prova para se virarem merecedor do império industrial. O filme original é de 1971. Trata-se de uma grande fantasia de como as crianças encaram a vida com ingenuidade e pureza até serem desvirtuadas pelos adultos e se tornarem quase como os pais, carregados de malfeitos e preconceitos.

O Garoto (1921), de Charlie Chaplin, EUA

Um dos grandes gênios da história do cinema, Charlie Chaplin mostra todo seu lirismo e inconformismo com as desigualdades ultrajantes do capitalismo ao colocar no meio do caminho do seu eterno personagem “vagabundo” um bebê, abandonado pela pobre mãe. O vagabundo cria laços afetivos com o garoto e, juntos, fazem diversas peripécias para sobreviverem em meio à pobreza. Uma divertida comédia do cinema mudo, que faz refletir sobre o mundo que queremos legar para as futuras gerações.