As concessões de rádio e TV precisam ser revistas, por Pedro Cardoso

Faz tempo que venho querendo falar sobre Silvio, que de santo não tem nada. Pudores de respeito para com a democracia me dificultavam, no entanto. Mas diante do concurso de beleza de crianças desfilando de maiô para serem julgadas por sua aparência, meus pudores deram lugar a revolta.

Silvio Santos - Ilustração: Miguel Paiva/BR247

Nunca gostei de Silvio. Acho o trabalho dele de péssima qualidade. Acho o programa dele chatíssimo. Acho que Silvio fez dinheiro vendendo ilusão para pobres brasileiros. Acho Silvio um irresponsável social. Estive na tv dele para dar entrevista sobre o meu trabalho e nunca gostei de ir lá! Silvio participa de longa data do projeto fascista brasileiro. Agora é garoto propaganda declarado dele! Acho que Silvio presta um desserviço ao Brasil com sua televisão medíocre e seu comportamento libidinoso e mal educado. Dane-se o meu pudor.

Não me acho mais obrigado a garantir a democracia para quem se dedica a destruí-la. E não é só Silvio e o seu SBT. São inúmeras as concessões públicas de rádio e tv usadas para minar as bases intelectuais da nossa democracia. O compromisso para com a democracia nos exige tomarmos nítida posição contra quem a quer destruir. O poder da comunicação de massa é tamanho que as empresas a quem nós cedemos o uso devem estar submetidas ao mais rigoroso compromisso democrático. E nisso incluo todas! Umas mais outras menos, TODAS – redes Globo, TV, Band… todas! – as empresas de comunicação de massa no Brasil ainda devem a nós uma muito mais responsável atuação.

Os caminhos se fecharão para mim com o que digo aqui. Mas de que me valem caminhos abertos que conduzem ao lugar sombrio da ignorância?! Nada.

Desfile de beleza infantil – doença norteamericana que Silvio e seus iguais tanto admiram – é uma afronta insuportável a dignidade da pessoa. São mesmo falsos os moralistas pseudo religiosos hoje no poder. O silêncio deles os revela!

Sugiro que todas as concessões de sinal de rádio e tv sejam revistas em um futuro governo democrático; não a luz da política partidária; mas da seriedade, da honestidade e do compromisso para com a democracia e o estado laico por parte de quem as pretende explorar.

Rádios e tvs, devem ser lugar de seriedade. Viva a TV Cultura.