Constrangidos, PSDB e Novo já tentam se afastar da imagem de Bolsonaro

A direita já não quer ser vista ao lado da extrema-direita. Depois de veladamente apoiarem Jair Bolsonaro (PSL) contra Fernando Haddad (PT) no segundo turno das eleições presidenciais de 2018, partidos como o PSDB (a direita envergonhada) e o Novo (a direita economicista) não escondem mais o constrangimento. Até apoiam a reforma da Previdência do governo, mas querem distância da imagem desgastada do presidente.

Bolsonaro

É o que informam os jornais O Globo e Valor Econômico nesta quinta-feira (1/8). Segundo o diário carioca, “a escalada de declarações polêmicas” de Bolsonaro “acelerou no PSDB um movimento para se descolar do Palácio do Planalto. Depois de críticas às declarações de Bolsonaro feitas por dois de seus três governadores – João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) –, o partido se posicionou nesta quarta-feira, demarcando diferenças em relação ao presidente”.

Nas redes socais, os tucanos também cutucaram Bolsonaro: “Gente, fica a dica: ser contra a ditadura no Brasil não é ser de esquerda ou comunista. É apenas respeitar a história e ser absolutamente contra todas as atrocidades cometidas durante o período”. Segundo O Globo, foi a primeira vez que a nova direção do partido, empossada em maio, usou seus perfis para se contrapor a uma declaração do presidente.

A reportagem cita, ainda, um depoimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – outro tucano a atacar Bolsonaro: “O presidente despreza os limites do bom senso por sua incontinência verbal. Contraria documentos oficiais sobre o pai do presidente da OAB e dá vazão a rompantes autoritários. Prejuízo para ele e para o Brasil: gostemos ou não foi eleito. O que diz repercute e afeta nossa credibilidade”.

As lideranças tucanas, conforme o jornal, “afirmam que o período de ‘observação’ do presidente acabou e que a legenda passará a se manifestar contra ‘radicalismos’ de Bolsonaro. A orientação vale também para seus ministros”. Mas com um porém: os petardos serão “cirúrgicos”, focados na “pauta de costumes” e nos “assuntos ligados a direitos humanos”.

Já o presidente do Novo, João Amoêdo, em entrevista ao Valor Econômico, não ficou atrás. Foi evidente sua fixação em se diferenciar de Jair Bolsonaro. “Meu desagrado maior é em relação à postura do presidente, de continuar selecionando pautas que não são prioritárias, pautas ainda de campanha, de divisão da sociedade, com tanta coisa importante que precisa ser feita no país”, afirmou Amoêdo.

“É aquela dúvida que sempre fica: até que ponto ele faz porque é natural dele ou é uma coisa pensada, uma estratégia para manter seu grupo original, o que lhe deu apoio no início da candidatura, e se isso seria uma resposta a esse grupo. Mas qualquer uma dessas duas alternativas é muito ruim, porque a gente continua num ambiente de campanha quando o Brasil, na verdade, precisa ter um ambiente de construção, e não mais de polarização”, esbravejou o presidente do Novo. “Faltam pessoas próximas ao presidente que lhe deem essa recomendação. No início do mandato vimos que pessoas próximas estavam orientando mal o presidente, com essa guerra ideológica e esses embates.”

O Valor nota que o comportamento crítico de Amoêdo é comum nas redes sociais, “em boa parte de seus tuítes”. De acordo com o jornal, o político “despende parte do seu tempo para convencer brasileiros de que o partido que criou é diferente dos demais. Nos últimos dias, concentrou-se em explicar que o Novo se distingue também do presidente (…). Segundo ele, se Bolsonaro age por instinto ou por estratégia para manter a seu alcance um séquito de eleitores obstinados”.

Indagado sobre o porquê de ter dito que a bancada do Novo no Congresso não será “bolsonarismo gourmet”, Amoêdo voltou a se distanciar do governo: “O apoio está nas pautas, nas ideias. Quando há posturas como essas [do Bolsonaro], o partido critica, eu critiquei, parlamentares do Novo criticaram. Estamos apoiando pautas econômicas (…). Isso é muito diferente de outras pautas. Somos muito diferentes do bolsonarismo na forma de lidar, com diálogo, com construção. O perfil do Novo é muito diferente do perfil da Presidência”.