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Os piratas vão hackear a maior festa literária do país pela esquerda

O barco pirata atracou na margem esquerda do canal de Paraty para a maior festa literária do país. Em tempos de fake news compartilhadas à exaustão para manipular a opinião pública, é necessaŕio reivindicar o posicionamento político de grandes intelectuais. Com estrutra nômade composta por ônibus e barco livraria, os piratas se lançam no mar de águas turvas da história para disputar a narrativa ideológica da Flip, cujo homenageado da vez é Euclides da Cunha. 

Por Mariana Serafini, para o Vermelho

Flipei Flip literatura - Foto: Mariana Serafini

Nos cinco dias de festa literária, as ruazinhas estreitas do centro histórico de Paraty são tomadas pelos amantes dos livros que chegam de várias partes do Brasil e do mundo ansiosos para ouvir os intelectuais pops da vez. Mas o evento literário é também palco de uma disputa ideológica importante da narrativa sobre grandes nomes da literatura.

O homenageado desta edição é Euclides da Cunha, além de escritor, foi jornalista e um militante socialista ativo de seu tempo. Mas a imprensa, ao falar do autor de Os Sertões, fez questão de destacar seu passado militar.

A especialista na vida e obra do escritor, Laís Peres Rodrigues, critica as manchetes e questiona: “este não é o aspecto mais importante a se destacar sobre o Euclides, qual o interesse da mídia ao fazer isso?". O editor do livro “Euclides, Obras Esquecidas” (Autonomia Literária, R$25), Cauê Seignemartin, tem parte da resposta na ponta da língua, “soa interessante que em meio a um governo tomado por militares, seja justamente este o aspecto que se destaca, mas enquanto militar, Euclides criticou as estrutura, propôs greves e defendeu os trabalhadores", afirma.

“Canudos não se rendeu”, garante Laís ao argumentar que a literatura de Euclides salvou a revolução de Antônio Conselheiro de cair no esquecimento, ou de ter seu caráter popular e classista deturpado pela narrativa hegemônica.

Este é o desafio de quem se propõe a resgatar a história de intelectuais – não só brasileiros – que hoje tem seu legado socialista, ou de esquerda, apagado pela narrativa tida como oficial. Neste cenário surge a Flipei, uma feira de editores independentes, dispostos a apresentar ao público leitor uma outra proposta de catálogo, mais engajada e voltada para as questões sociais.

A cada ano que passa a Flipei ocupa mais espaço na Flip. Nesta edição, a feira paralela conta com um ônibus e um barco livraria onde os leitores tem acesso a um imenso catálogo de obras de quase 30 editoras independentes, entre elas a Anita Garibaldi, Autonomia Literária, Boitempo e Ubu.

Os leitores encontram nestas duas livrarias alternativas uma série de obras que nem sempre são expostas nas grandes redes. São livros artesanais, feito com todo cuidado para que ama a experiência de começar uma nova história, obras de cunho político e literatura para os mais variados gostos, além de quadrinhos e opções infantis.

Mas os piratas não chegaram em Paraty apenas para vender livros, eles também presenteiam o público com uma programação intensa de oficinas, palestras e festas. Um dos destaques desta edição é a mesa com o editor do The Intercept Brasil, Glenn Greenwald, que fala sobre “Os desafios do jornalismo em tempos de Lava Jato", nesta sexta-feira (12), às 19 horas. Diferente da Flip, todas as atividades da Flipei são abertas ao público e gratuitas.

A programação conta ainda com debates sobre literatura, política nacional, feminismo, racismo, povos originários; além de atividades culturais como shows, festas e slam.

Ao hackear a maior festa literária do país pela esquerda, os piratas usam todas as suas armas para enfrentram a direita na trincheira da luta de ideias e mostram que o trabalho para não apagar o legado socialista de nossos intelectuais em meio a um governo que cultua a barbárie está só começando.