Em crítica dura, China diz que EUA ameaçam a economia e a paz mundial

A agência de notícias da China Xinhua fez comentários sobre a escalada da guerra comercial promovida pelos Estados Unidos, dizendo que o regime de Washington carregará o pesado fardo de seu unilateralismo e protecionismo, já que a China está bem preparada para contra-atacar.

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Segundo os textos, a tensão entre as duas maiores economias do mundo atingiu um novo patamar depois que os Estados Unidos impuseram tarifas adicionais aos produtos chineses e até mesmo se aproveitaram da preocupação de "segurança nacional" para intimidar a Huawei, uma gigante chinesa de telecomunicações.

Encarando a agressiva postura protecionista dos Estados Unidos, a China demonstrou total ímpeto de reação anunciando contramedidas tarifárias. O país socialista reiterou que contra-atacará se for necessário caso os Estados Unidos continuem a agir deliberadamente.

Não se engane, diz a Xinhua: a China não está blefando. Há muitas opções em jogo, devido a interdependência das duas economias.

Uma guerra comercial não beneficia a ninguém, mas a China tem uma economia resiliente e ferramentas políticas abundantes para enfrentar mais ataques desta guerra comercial, enquanto a longa expansão econômica dos Estados Unidos atingiu seu pico e logo começará a sentir a pressão, afirma a agência.

O mercado de ações dos Estados Unidos registrou violentas flutuações nas últimas duas semanas devido ao iminente temor de uma escalada de tensão dentro da guerra comercial. Possíveis repercussões financeiras poderiam transformar o mercado acionário em alta por quase uma década em um em baixa, colocando em risco a recuperação da economia norte-americana.

A Xinhua prossegue dizendo que as multinacionais dos Estados Unidos, que lucraram muito com o acesso ao grande mercado da China e à cadeia de fornecimento global com custos reduzidos e maior competitividade, também seriam duramente golpeadas se a sua participação no mercado diminuir.

Guerra

Sem dúvida, diz a agência, a China também não sairá ilesa desta guerra. No entanto, se mais medidas protecionistas unilaterais dos Estados Unidos forem impostas apenas irão estimular a união entre a moral e o patriotismo da China, que resultará em uma formidável força para enfrentar quaisquer desafios, como repetidamente acontece na história chinesa.

Os Estados Unidos, que estão fechando suas portas para os produtos e investidores chineses, prejudicarão os diretamente os envolvidos, mas no fim das contas, ajudarão a promover a transição econômica da China para se tornar uma inovadora global independente, afirma a Xinhua.

A China vem se esforçando para melhorar sua estrutura industrial adotando uma estratégia de desenvolvimento orientada para a inovação. As empresas chinesas estão investindo pesadamente em pesquisa e desenvolvimento para expandir sua independência tecnológica.

Reduzindo a dependência das exportações para impulsionar o crescimento, a reforma em curso no lado da oferta do país irá estimular um enorme consumo. A China tem o maior mercado do mundo, com cerca de 1,4 bilhão de consumidores, oferecendo um crescente bolo, grande e lucrativo o suficiente para atrair qualquer país que queira pegar sua fatia. A Iniciativa do Cinturão e Rota ajudará a conectar ainda mais os mercados.

A maior economia em desenvolvimento do mundo, prossegue a Xinhua, prometeu se dedicar à reforma e abertura, o que representa na verdade um trunfo para combater qualquer forma de unilateralismo e protecionismo.

O triunfo estará nas mãos da China, ao passo que o multilateralismo e o livre comércio seguirem como a tendência dos tempos e contando com o grande apoio global.

Domínio mundial

Segundo a Xinhua, o vício da arrogância de longa data de Washington se tornou uma ameaça grave para a estabilidade e a paz mundiais.

Os Estados Unidos mostraram um superentusiasmo em brandir o porrete tarifário contra seus principais parceiros comerciais, incluindo União Europeia (UE), Japão, Canadá, México e China.

A intenção de tais ações é clara e simples: esmagar qualquer um que os Estados Unidos veem como uma ameaça para seu domínio mundial. E isso é exatamente o que têm feito desde que se tornaram uma superpotência no rescaldo da Segunda Guerra Mundial.

Para fazer isso, afirma a agência, Washington usou todos os tipos de armas, incluindo intervenção militar, sanções econômicas e mentiras. E como Washington briga por seus próprios interesses e pela supremacia mundial, muitos no mundo se tornaram vítimas.

A Xinhua lembra que antes de invadir o Iraque em março de 2003, a então administração dos Estados Unidos mentiu para a comunidade internacional que o então presidente Saddam Hussein acobertava terroristas e tinha grandes estoques de armas de destruição em massa dentro do Iraque.

A guerra liderada pelos Estados Unidos sem um mandado da ONU lançou o Iraque em um redemoinho, e a nação devastada pela guerra jamais se recuperou.

Os aliados dos Estados Unidos também figuram na longa lista de vítimas de Washington, diz a agência.

Em 1985, os Estados Unidos assinaram o Acordo de Plaza com a França, ex-Alemanha Ocidental, Japão e Grã-Bretanha. Muitos dos principais economistas do mundo acreditam que o acordo ajudou a aplacar o forte crescimento econômico do Japão nos anos 1980 e deixou o país em um período prolongado de deflação e de crescimento baixo, conhecido como a Década Perdida.

Neste momento, Washington está encurralado em uma batalha comercial com seus aliados europeus. Impôs tarifas sobre o aço e o alumínio da UE no ano passado e está ameaçando adotar tarifas pesadas sobre carros importados da Europa.

Arrogância

Devido à sua arrogância, diz a Xinhua, Washington descarta teimosamente o espírito do livre comércio e tratados internacionais extensamente reconhecidos.

Desde os anos 1980, o país se retirou duas vezes da Unesco, o corpo de cultura e educação das Nações Unidas, e em 2001 unilateralmente deixou o Protocolo de Kyoto, um tratado internacional para combater a mudança climática.

Exercendo a doutrina America First, prossegue a agência, a atual administração dos Estados Unidos está abandonando ainda mais compromissos internacionais, incluindo retirar-se do Acordo de Paris, sobre mudança climática, e do acordo nuclear iraniano.

A Xinhua comenta que em um artigo de opinião, o comentarista-chefe de economia do Financial Times, Martin Wolf, escreveu que o governo dos Estados Unidos acredita em "transações em vez de alianças, bilateralismo em vez de multilateralismo, imprevisibilidade em vez de consistência, poder em vez de regras e interesses em vez de ideais".

E prossegue dizendo que a verdadeira essência da ordem mundial pós-guerra é promover a cooperação multilateral e a globalização econômica. Infelizmente, a obsessão de Washington por hegemonia está plantando sementes de confronto em muitas partes do mundo e matando o sistema mundial que eles ajudaram a estabelecer e de que tanto se beneficiam há décadas.

Para promover seus principais interesses nacionais, os Estados Unidos precisam se curar do vício de bullying e assumir suas próprias responsabilidades como uma importante potência para os interesses comuns do mundo. Ser intimidador pode trazer vantagens temporárias, mas provocará dano de longo prazo para si próprio, conclui a agência.

Made in China

Na mesma Xinhua, o subdiretor do comitê econômico do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e ex-vice-diretor do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento do Conselho de Estado, Liu Shijin, disse que uma guerra comercial não resolverá nenhum problema e só gerará como resultado perdas para ambas as partes.

"De uma perspectiva econômica, o argumento de Washington de que as altas às tarifas geram benefícios é completamente falso", disse o pesquisador em uma entrevista exclusiva à Xinhua.

Liu assinalou ainda que a China e os Estados Unidos representam cerca de 40% da economia mundial e que uma guerra comercial não resolverá nenhum problema. Ao contrário, conduzirá a perdas para ambas as partes e terá um impacto na economia mundial e na globalização econômica.

"A formação e o desenvolvimento das relações comerciais China-EUA têm estado baseados na diferença entre as vantagens comparativas e as vantagens competitivas", disse Liu, acrescentando que os meios existentes de cooperação econômica, como resultado das condutas comerciais dos produtores e consumidores de ambos os países, são benéficos para as duas partes.

Ele indicou que o Made in China reduziu os custos de produção e os preços dos produtos nos EUA, ajudando a manter os preços estáveis ao consumidor do país e gerar uma ampla gama de benefícios aos consumidores norte-americanos.

"O argumento de que as altas tarifárias só impactam a economia chinesa e não a norte-americana é insustentável", disse Liu.

Quanto ao uso pelos Estados Unidos das altas das tarifas para escalar as disputas comerciais, Liu prevê uma pressão de curto prazo e influência limitada na economia chinesa.

Em conjunto com os diversos mercados em desenvolvimento, as exportações da China têm se tornado menos dependentes dos Estados Unidos, disse Liu. Os setores de exportação chineses são capazes de enfrentar os choques e desafios das crescentes fricções comerciais.

"Como a força econômica da China segue crescendo, as contradições entre os dois países também se estão agravando", disse.

Os EUA estão aproveitando o poder do Estado para frear as companhias chinesas como a Huawei, a fim de reprimir a crescente força tecnológica da China.

Reforma e abertura

Reprimir as companhias chinesas não apenas prejudicará apenas os fornecedores diretos da empresa e outras nas cadeias industriais relevantes, mas também fará com que as companhias americanas saiam perdendo no mercado chinês. Isto danifica os interesses dos consumidores americanos e afeta as companhias americanas de alta tecnologia, que de outra forma poderiam fazer um melhor uso de suas vantagens técnicas, advertiu Liu.

O especialista disse à Xinhua que é normal que a economia chinesa desacelere um pouco. Com tanto que a economia se expanda estavelmente, o emprego não será um problema.

Para a China, o mais importante é continuar aprofundando mais a reforma e abertura de seu mercado para fazer frente ao desafio, segundo Liu.

Além disso, pode-se promover novos motores de crescimento, melhorando a eficiência, elevando os ganhos do grupo de renda mais baixa, melhorando o capital humano, atualizando o consumo e a estrutura de manufatura, assim como impulsionando a inovação e o desenvolvimento ecológico.