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O cubano Miguel Barnet e seus Poemas Chineses 

O Prosa, Poesia e Arte apresenta, nesta sexta-feira (15/3), uma tradução inédita de Poemas Chineses – Poema Número VI, do cubano Miguel Barnet. Nascido em Havana, em 1940, Miguel Barnet Lanza se tornou conhecido por seu romance histórico Biografía de un Cimarrón. É um dos escritores cubanos de maior sucesso internacional – sua obra está traduzida em várias línguas.

Flor longilínea - Bárbara Gael

Em 1994, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura de Cuba. Entre seus livros de poesia estão La Sagrada Familia (1967), Orikis y Otros Poemas (1980) e Poemas Chineses (1993). Foi desta última obra que se extraiu o Poema Número VI. A tradução brasileira abaixo é do poeta Alexandre Pilati, professor de Literatura da Universidade Brasília (UNB) e colaborador do Prosa, Poesia e Arte.

“Repare o leitor para a forma muito delicada como o poeta constrói a imagem da imperatriz e banha a sua linguagem numa sutil camada de ironia, que deriva do espanto em razão do contraste entre beleza e feiúra, entre riqueza plástica e maldade”, indica Pilati.

Poemas chineses – Poema Número VI
(Miguel Barnet)

As unhas da imperatriz eram terrivelmente longas
A imperatriz possuía um jardim de pedras preciosas
e grous amestrados
Todos veneraram a imperatriz
Todos se gabavam de ler seus pensamentos
As princesas queriam ter unhas tão grandes
como as da imperatriz
Os mandarins disputavam o amor da imperatriz
o povo a temia
A imperatriz foi retratada com suas princesas
em uma salão abarrotado de pérolas

Qualquer uma era mais bela que a Imperatriz,
mas ela, a mais feia,
era a imperatriz à frente de seu navio pirata
Enforcou, degolou, trucidou todos aqueles
que não a amavam

E ela fez isso para se eternizar na grande cadeira imperial
de raiz de figueira-de-bengala
Mas eu passo agora, em frente ao seu retrato,
e só vejo uma mulher feia com unhas extremamente
longas
numa fotografia onde contrastam com a sua feiúra
os lindos rostos de suas seis maculadas princesas