A cautela de Trump em relação às acusações contra a Arábia Saudita

Donald Trump enviou seu secretário de Estado, Mike Pompeo, a Riad e sugeriu que um grupo de capangas pode ter matado o repórter assassinado no consulado saudita na Turquia, apesar de provas

Trump e Salman

No sábado (13), Donald Trump pareceu endurecer o tom em relação a Arábia Saudita, acusada de assassinar em seu consulado na Turquia o exilado jornalista Jamal Khashoggi, que escrevia textos críticos contra o governo saudita e o rei Salman. Mas a severidade do presidente norte-americano em relação ao possível crime cometido pelo seu maior aliado arábe não durou muito. 

Na segunda (15), Trump enviou seu secretário de Estado, Mike Pompeo, a Riad. Segundo ele, por uma conversa telefonica, o rei Salman teria negado "firmemente" saber o que aconteceu com Jamal. Perguntado por jornalistas na Casa Branca sobre o que o monarca lhe disse, o presidente respondeu: “Ele não sabia realmente. Talvez, não quero entrar na sua cabeça, mas para mim soou que talvez possam ter sido assassinos sem escrúpulos. Quero dizer, sabe-se lá”.

A Turquia afirma ter provas de que Khashoggi foi assassinado e esquartejado depois de comparecer ao consulado saudita para realizar um trâmite matrimonial. A Arábia Saudita nega, mas praticamente não deu explicações sobre onde está o repórter, que era colunista do The Washington Post. Segundo esse jornal, os EUA interceptaram conversas de funcionários sauditas relatando que o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman ordenou a preparação de uma armadilha contra Khashoggi com o objetivo de detê-lo e levá-lo à Arábia Saudita.

Nesta terça-feira (16), mais um fato inédito: a Arábia Saudita está disposta a admitir que o jornalista Jamal Khashoggi morreu em um interrogatório depois de entrar no consulado de seu país em Istambul, na Turquia, de acordo com veículos de comunicação dos Estados Unidos, como CNN, The New York Times e The Wall Street Journal. O canal de televisão fala de "duas fontes" que asseguram que "os sauditas estão preparando um relatório reconhecendo que a morte de Jamal Khashoggi foi resultado de um interrogatório que deu errado". Segundo uma das fontes da CNN, os sauditas supostamente informarão que a operação foi realizada "sem autorização e transparência" e que os envolvidos "serão acusados". Isso depois de Trump especular que os assassinos poderiam ter agido livremente. Ao ser questionado sobre o furo dos veículos norte-americanos, Trump disse: "ninguém sabe se isso é oficial". 

Trump, que não hesitou em impor sanções contra a Coreia Popular e à Rússia quando o país foi acusado de envenenar um ex-espião e em bombardear a Síria antes mesmo do início das investigações sobre supostas bombas químicas usadas por Bashar Al-Assad, se mostrou muito cauteloso na semana passada sobre o desaparecimento de Khashoggi. Limitou-se a anunciar que os EUA participariam das investigações e que queria esclarecer o caso. Mas ele recusa a crescente pressão do Congresso pela imposição de sanções ao reino, alegando que restringir a venda de armas ao regime seria contraproducente; por fim, ainda qualificou como “excelentes” as relações com Riad, a primeira capital que ele visitou como presidente.

O caso Khashoggi é cada vez mais incômodo para Trump, que se mostrou muito crítico com a imprensa e deixou em um distante segundo plano o respeito pelos direitos humanos no mundo. O presidente, e em especial seu genro e assessor, Jared Kushner, estimularam a ascensão de Mohamed bin Salman, que administra o dia a dia do reino, e reforçaram a relação com a Arábia Saudita por ser um contrapeso ao Irã, reforçando-a como o principal aliado dos EUA no Oriente Médio, junto a Israel.