Haddad: "Vamos nos associar a todos que defendem a democracia"

“Vamos nos associar a todos os que defendem a democracia”, disse o candidato à Presidência da República, Fernando Haddad, em entrevista após visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Curitiba. Sem citar nomes, o postulante afirmou que a democracia no país “está sendo ameaçada diariamente, com suposições. Uma hora é a urna eletrônica, outra hora é sobre o resultado eleitoral”, declarou.

Haddad

Haddad comentou as declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que, em entrevista publicada na Folha de S.Paulo, garantiu que, qualquer que seja o resultado das eleições, ele será respeitado. A afirmação de Toffolli foi em resposta a rumores de que, caso o PT vença a disputa, setores das Forças Armadas não aceitariam a decisão popular. O próprio Bolsonaro chegou a plantar a tese de “fraude eleitoral”, no caso de vitória de Haddad.

“Há uma preocupação grande das instituições e nossa também. Nossa campanha vai se engajar cada vez mais na questão do fortalecimento da democracia. Nós entendemos que não há como gerar empregos sem democracia, não há como matar a fome das pessoas sem democracia. Não há como garantir educação de qualidade sem democracia", disse o candidato do PT.

De acordo com ele, sua candidatura irá se associar a todos os movimentos sociais, populares e institucionais para o fortalecimento da democracia no Brasil. "O mundo está observando o Brasil com muito cuidado em função desses movimentos exóticos, estranhos à tradição que nós consolidamos depois da redemocratização e vamos nos associar a esses movimentos que colocam a democracia em primeiro lugar", completou.

Sem intolerância

Segundo o postulante, é preciso criar um clima mais pacífico durante o processo eleitoral. “Temos que cultivar um ambiente de paz com dois focos, emprego e educação. Entendemos que trabalho e educação é o que vai tirar o País da crise. Se as pessoas não tiverem trabalho ou oportunidade educacional nós não vamos sair da crise. E é em ambiente de paz que se constrói isso, não é cultivando a intolerância", disse.

Questionado sobre a informação de que Bolsonaro estaria preparando um manifesto para ser divulgado à Nação, Haddad declarou que o seu manifesto é o seu programa de governo, que já foi apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral. “Eu reitero a cada entrevista, é um compromisso de aprofundamento à democracia, de respeito à soberania nacional, de respeito à soberania popular – pouca gente respeita infelizmente -, de respeito aos direitos sociais e trabalhistas. O aceno que estamos fazendo é um aceno ao povo que está sofrendo com o governo Temer e os apoiadores do governo Temer", respondeu.

Responsabilidade fiscal e contra a cultura do agrotóximo

Haddad também reiterou que não deixou obras paralisadas em sua gestão na Prefeitura de São Paulo. "Nós não paralisamos nenhuma obra durante nosso governo", disse o candidato. "É que depois das eleições você é obrigado a cumprir a lei de responsabilidade fiscal, tem que deixar dinheiro em caixa. Nós deixamos R$ 5,5 bilhões em caixa. Se nós deixamos R$ 5 bilhões, por que razões nós pararíamos alguma obra? Quem até hoje não retomou as obras foi meu sucessor [João Doria]. Por isso ele está enfrentando tanta rejeição em São Paulo", criticou.

Ex-ministro da Educação, Haddad, afirmou ainda que, se eleito, vai ampliar a compra de alimentos orgânicos para uso na merenda escolar. Ele disse que quer combater a "cultura do agrotóxico" no país.

Autocrítica?

Ao ser indagado mais uma vez sobre se o PT fará uma autocrítica durante as eleições, Haddad lembrou que o partido tem apontado questões pontuais, nas quais poderia ter agido de forma diferente. Mas criticou o fato de a insistente pergunta direcionada ao PT não ser feita também aos tucanos Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin. "Nunca vi perguntarem ao Alckmin se ele não faria uma autocrítica das quatro derrotas que teve, da sua situação nas pesquisas", provocou.

"Eu já fiz várias entrevistas falando pontualmente onde nós podíamos ter melhorado, nosso plano de governo reflete uma visão de enfrentamentos que nós não fizemos, acho curioso que essa pergunta é sempre feita ao PT, quem perdeu as quatro últimas eleições não foi o PT", colocou.
Sobre a visita a Lula, Haddad disse que grande parte dela foi dedicada a tratar dos assuntos jurídicos relacionados à prisão do ex-presidente.

Direito à entrevista

Antes da entrevista com o presidenciável, o tesoureiro do PT, Emídio de Souza, afirmou que a direção nacional do PT vê com “estranheza” que a Justiça permita que Adélio Bispo de Oliveira, preso por esfaquear Jair Bolsonaro, conceda entrevista à imprensa, às vésperas das eleições, mas negue tal direito a Lula.

"Nos causa estranheza que um preso homicida, que é o caso do rapaz que deu a facada, tenha o direito de gravar entrevistas dentro da prisão e ao presidente Lula seja negado este direito o tempo todo. Nos causa estranheza, pois o que de importante essa pessoa tenha a dizer ao País?”, indagou Souza.