“Mercado” reage a fracasso de Alckmin e dólar chega a R$ 4,00

“O mercado” reagiu mal, nesta terça (21), ao resultado da última pesquisa eleitoral, que mostra o ex-presidente Lula em ascensão e Geraldo Alckmin, candidato favorito das finanças, sem decolar. O descontentamento das elites econômicas representadas por essa "entidade" tão abstrata teve como consequência uma alta de 2% no dólar, que voltou a superar o tão temido patamar de R$4,00, depois de quase dois anos.

Por Joana Rozowykwiat

alckmin

Apesar de a moeda norte-americana ter perdido força em escala global, no Brasil, o movimento foi inverso. O dólar atingiu alta de 2,04% ante o real, e findou cotado a R$ 4,039. O mercado acionário também não teve um bom dia em terras verde-amarelas. O Ibovespa recuou 1,5%, aos 75.180 pontos, com uma queda forte nas ações de estatais.

A explicação para tamanho “mau humor” está no cenário que se projeta para as eleições presidenciais. O desejo do tal "deus-mercado" é o de manter a atual política neoliberal, um projeto ameaçado pelo crescimento do PT, medido pelas sondagens de intenção de voto.

A agenda do mercado inclui privatizações, manutenção do teto para gastos não financeiros e do desmanche da legislação trabalhista, reforma da Previdência e da Assistência Social, reforma tributária a favor dos mais ricos, desmonte do Estado, entre outros. Trata-se de uma pauta que se opõe frontalmente ao projeto da coligação O Povo Feliz de Novo (PT, PCdoB e PROS).

O “nervosismo” refletido na bolsa e no câmbio ocorre então porque, nesta segunda-feira (20), o Ibope divulgou levantamento nacional mostrando que o ex-presidente Lula aparece em primeiro, com 37% das intenções de voto – percentual semelhante ao da pesquisa CNT/MDA divulgada no mesmo dia, na qual Lula aparece com 37,3%.

Segundo o Ibope, com menos da metade do percentual de Lula aparece o segundo colocado, Jair Bolsonaro, com 18%. Marina Silva (Rede) está com 6%, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) empatados com 5%. Ou seja, o candidato dos sonhos dos investidores – comprometido com seu projeto reformista – não deslanchou, causando frustração.

Mesmo em um cenário sem o ex-presidente Lula, o tucano não consegue atingir dois dígitos. Bolsonaro fica com 20% das intenções de voto. Marina vem logo atrás, com 12%, seguida de perto por Ciro, com 9%, e por Alckmin, com 7%. Haddad tem 4% das intenções de voto, mas outras sondagens já mostram seu potencial de crescimento quando apresentado como o candidato apoiado por Lula.

O temor da elite financeira que esteve por trás do golpe decorre, portanto, da dificuldade de impor seu candidato nas urnas. "O mercado não considerava, até poucos dias atrás, um cenário sem Alckmin no segundo turno, mas já começa a precificá-lo", disse Pedro Paulo Silveira, economista da corretora Nova Futura, à Folha de S. Paulo. “O novo patamar do dólar, nesse novo cenário, é entre R$ 4,20 e R$ 4,50”, avaliou ele, para a Reuters.

Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, foi na mesma linha, em entrevista a O Globo: “No Brasil, o mercado segue receoso tanto pelo fato de que candidatos que são considerados alinhados com as reformas estruturais estão performando mal, quanto pela fragilidade do atual governo”.

O operador de câmbio e derivativos do banco Paulista, Alberto Felix de Oliveira Neto, afirmou ao Jornal do Brasil que as pesquisas deixaram os investidores preocupados quanto ao segundo turno. "O mercado teme o aumento das intenções de votos em Lula e o risco de transferência de votos do petista para Fernando Haddad. Bolsonaro e Haddad no segundo turno trazem grande desconforto aos investidores". 

O mesmo mercado que, em 2002, fez terrorismo financeiro contra Lula, está mais uma vez descontente com a democracia. Faz repercutir na economia brasileira sua insatisfação com as escolhas do povo.