Sem categoria

Aretha Franklin, a dama do soul que encantou o mundo

Nesta quarta-feira (16) o mundo da música ficou de luto, em memória de Aretha Franklin.

Por José Carlos Ruy

Aretha Franklin - Grosby Group

A canção Respect, gravada por Aretha Franklin em 1967, foi reconhecida como um hino da campanha pelos direitos civis nos EUA – luta que estava no auge na década de 1960.

A cantora foi vencida pelo câncer que a acometeu desde 2010, e – nesta quarta-feira (16) – o mundo da música ficou de luto, com a despedida desta que foi a cantora dos direitos civis e da luta das mulheres.

Aretha Franklin, que se tornou conhecida desde o enorme sucesso daquela canção-hino, foi uma cantora solidamente enraizada na cultura de seu povo – os negros e os trabalhadores dos EUA.
Foi também a rainha do soul – palavra usada, comercialmente pelas gravadoras para designar a música dos negros estadunidenses.

Formada musicalmente na paróquia que seu pai, Clarence LaVaughn Franklin, um pregador da Igreja Batista, dirigia em Detroit – e que foi um dos companheiros de luta de Martin Luther King – ela beneficiou-se da larga tradição da música evangélica e da convivência com muitos dos gigantes desta tradição, com os quais conviveu desde menina, na casa de seu pai. Entre eles a cantora de porte extraordinário que é Mahalia Jackson. Foram influências decisivas para ela.

Nos anos 60, sem abrir mão da militância política e social (foi ela, por exemplo, que pagou uma fiança para tirar a líder Angela Davis da cadeia), tornou-se cantora profissional, ganhando rapidamente enorme prestígio e sucesso. De tal maneira que a revista Roling Stone a classificou como a maior cantora de todos os tempos. Com razão – sua voz de mezzo-soprano é inconfundível e, usada com a elegância de Aretha, justifica tal classificação.

Uma das canções que gravou nos anos 60 tem o título de Lady of soul (A dama do soul). É um título que define a própria Aretha Franklin. O soul surgiu nos EUA, na década de 1950, como designação comercial para a fusão entre o rhythm and blues e o gospel, um gênero em que os negros dos EUA adaptavam sua música aos ouvidos brancos e racistas. A palavra soul foi usada desde então como sinônimo de música negra, desde aquele período de luta antirrasista intensa.
Teve forte influência também sobre o rock and roll, que dava os primeiros passos no cenário musical.

A fonte comum destes gêneros é o blues (palavra que, entre os estadunidenses, é associada à melancolia) e está solidamente enraizado nas canções de trabalho e nas canções religiosas (os spiritual) dos negros escravizados, sobretudo nos estados do Sul dos EUA, onde as grandes plantações – principalmente de algodão- eram tocadas a trabalho escravo. O blues ali nascido refletia diretamente a melancolia e o sofrimento daqueles homens e mulheres submetidos ao estatuto vil da escravidão. E que, inspirados na tradição africana de relatos orais – muitas vezes através de canções – nos quais contavam suas histórias – e que ficaram registradas em canções que se conservaram através do tempo, tendo sido gravadas por gente do porte de Louis Armstrong (cujo disco The Good Book é um excelente repositório daquelas canções).

Esta tradição, de canções do trabalho, que refletem as angústias e esperanças dos trabalhadores , é o solo fértil em que estão fincadas as raízes das canções que, na voz de Aretha Franklin, encantam o mundo.

Ouça Respect