Com crianças presas, pauta de Temer com vice dos EUA é Venezuela

Com mais de 49 crianças aprisionadas no Estados Unidos, após serem separadas de seus país pela política de "tolerância zero" de Donald Trump contra imigrantes, o governo de Michel Temer bota panos quentes no assunto para não desagradar o governo norte-americano.

Mike Pence

Enquanto no mundo inteiro a separação e a prisão das crianças pelos EUA foi motivo de repúdio, inclusive por membros do Partido Republicano de Trump, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (PSDB), disse em tom ameno que Michel Temer vai tratar do assunto com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, que visita o Planalto nesta terça-feira (26). Mas a pauta principal do encontro com o vice norte-americano não é as condições das crianças brasileiras, mas a Venezuela.

Aloysio Nunes disse que o governo brasileiro acompanha a questão fazendo contato com as famílias, oferecendo assistência jurídica e visitando os abrigos que receberam as crianças. Mas quando o tema é a Venezuela, o ministro eleva o tom defende um debate na Organização dos Estados Americanos.

Mike Pence é conhecido por sua linha intervencionista na política externa dos EUA. Além da questão econômica com vistas a retribuir a ação do governo no desmonte da Petrobras e entrega do pré-sal, sua visita ao Brasil e ao Equador tem como ponto central a questão da Venezuela.

A pauta sobre a situação das crianças fica ainda mais adjacente quando o tucano informa que no encontro também será discutido 10 pontos de uma agenda de interesses bilateral, incluindo a pontos ligados ao setor de energia, infraestrutura e segurança nacional.

Na área de segurança, o destaque será para o acordo "céus abertos", aprovado em março, que permite que os EUA sobrevoem o território do outro país sem pousar, bem como o direito de fazer escalas para fins não comerciais. Apesar do acordo ser recíproco, o acordo é carta-branca para os EUA monitorar o território.

Os EUA também estão interessados em um novo acordo de salvaguardas tecnológicas para que a base de Alcântara (MA) seja usada plenamente pelas suas tropas. O governo Temer, por sua vez, tem sinalizado o interesse em dar apoio político para as negociações técnicas na base de Alcântara.

A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), que integra a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, criticou as tratativas entre Brasil e Estados Unidos sobre a Base de Alcântara. De acordo com a parlamentar, é preciso um debate sobre a garantia de preservação da soberania.

“A própria justificativa utilizada por ele [Aloysio Nunes, ministro das Relações Exteriores] é uma expressão de absoluta subserviência. Como todo o satélite no mundo tem equipamentos produzidos pelos americanos, a gente só pode tratar desse assunto se conseguir autorização dos Estados Unidos?”, questiona a parlamentar.