Projeto de desenvolvimento deve enfrentar questões de gênero e raça

O 4º Salão do Livro Político, realizado no Tucarena (PUC), em São Paulo, nesta segunda-feira (18), promoveu uma mesa de debate com presidenciáveis que apontaram os seus livros de cabeceira.

Manuela - Reprodução

Na abertura da mesa, foi feita uma homenagem à vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em março. Sua irmã, Anielle Silva, estava presente e agradeceu a solidariedade. “Ainda não estamos prontos para falar sobre nossa tragédia. Mas sabemos da importância de momentos como este”, afirmou.

Mediada pelo jornalista Renato Rovai, da revista Fórum, a pré-candidata do PCdoB, Manuela D’Ávila, destacou a importância das editoras independentes para o fomento de produção de obras que ajudam a construir o pensamento político. Para ela, o esforço feito pelas editoras independentes precisa ser fortalecido no país para que “mais obras relacionadas à construção do nosso pensamento, das nossas ideias e do nosso projeto para o país sigam circulando, fazendo com que novas pessoas pensem, reflitam e se engajem nesse projeto de transformação que o país precisa”.

Manuela fez questão de trazer ao debate obras que demonstram a importância da questão de gênero e raça para o desenvolvimento de um país. “Selecionei algumas leituras que mudaram muito a minha perspectiva e que fazem a gente refletir sobre algo que muito importante no Brasil e no mundo de hoje. A construção de um projeto nacional de desenvolvimento que enfrente duas questões que estruturam a desigualdade em nosso país: as questões de gênero e de raça”, frisou Manuela.

Para a pré-candidata, o Brasil não pode pensar um projeto nacional de desenvolvimento sem que perceba que as mulheres, os negros e negras – que compõem a maior parte da população –, estão “alijados da construção desse desenvolvimento”.

Ela citou obras como Mulher, Estado e Revolução, de Wendy Goldman, e A Mulher Habitada, da nicaraguense Gioconda Belli. “Me instiga por ser uma escritora maravilhosa, mas também por ser uma guerrilheira”, enfatizou.

Outra escritora citada por Manuela foi a inglesa Virginia Woolf, apontando o artigo “Profissões para mulheres”, escrito em 1931. Manuela contou que Virginia Woolf escreveu o artigo para um grupo de mulheres trabalhadoras, para abordar o poema de Patmore e a necessidade de matar o que ela chama de “anjo do lar”, que apenas obedece e cumpre as suas funções domésticas como mulher. No artigo, ela afirma que todas as mulheres possuem esse tal anjo dentro de si e que, para uma vida saudável é preciso combatê-lo.

Misoginia e o golpe

Manuela apontou que o golpe de 2016 contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff é uma demonstração de como a questão de gênero é estrutural.

“O golpe que nós vivemos, que é inconstitucional e antidemocrático, tem a narrativa popular baseado na misoginia machista. O que diziam para justificar o golpe: que a Dilma não era capaz de enfrentar a crise, era a Dilma mal-amada, a mulher que gritava diante de homens calmos, sensatos e ponderados”, lembrou Manuela, que também é deputada estadual pelo Rio Grande do Sul.

“Quando a gente pensa no golpe precisamos pensar que é um projeto antibrasileiro, que partiu de um impeachment sem crime de responsabilidade, mas a legitimidade social desse golpe partiu da ideia de que a Dilma era incapaz de superar a crise econômica do Brasil. Na ideia de que as mulheres precisam abraçar o seu ‘anjo do lar’ e não enfrentá-lo”, comparou Manuela.

A mesa também contou com a pré-candidata pelo PSTU, Vera Lúcia, que salientou que o seu primeiro contato com a leitura política foi quando trabalhava em uma fábrica, onde tornou-se costureira de sapatos, e leu o Manifesto Comunista, de Marx e Engels. Para ela, os conceitos de internacionalização da luta da classe trabalhadora e do Estado marcaram a sua vida.

Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi representado pelo presidente da Fundação Perseu Abramo e economista Marcio Pochmann. Lula, que está preso desde o dia 7 de abril, enviou uma carta que foi lida por Pochmann durante o debate. “Espero que a Constituição seja o livro de cabeceira de todos neste momento”, frisou o ex-presidente, que foi condenado e preso num processo irregular e de violações aos direitos e garantias individuais.

Pochmann afirmou que Lula tem feito uma “leitura mais sistemática a respeito do Brasil” e citou livros que Lula leu no último período, como a trilogia do jornalista Lira Neto sobre Getúlio Vargas. Na carta lida pelo economista, Lula citou a oposição sofrida por Vargas contra a legislação trabalhista, a criação da Petrobras e da Eletrobras, que foram as bases do desenvolvimento industrial e tecnológico do país. “Hoje enfrentamos de novo forças que não querem a democracia, o desenvolvimento, a soberania e a inclusão social”, diz Lula em outro trecho da carta.

O pré-candidato pelo Psol, Guilherme Boulos, foi convidado mas não compareceu.