Laura Carvalho: 10 problemas evidenciados pela greve dos caminhoneiros

Os impactos da política econômica de Temer são sentidos desde segunda (21), quando os caminhoneiros paralisaram suas atividades contra o aumento no valor do diesel, recorrente de uma política de preços adotada pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente. Segundo a economista Laura Carvalho, a junção de uma política equivocada na estatal, o excesso de vulnerabilidade a choques externos e a falta de uma agenda de crescimento para o país são alguns dos problemas evidenciados nesses últimos dias.

caminhoneiros - Marcelo Camargo/Agência Brasil

De acordo com um levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a Petrobras reajustou o preço da gasolina e do diesel nas refinarias por 16 vezes em apenas 1 mês. Essa volatilidade e alta no preço dos combustíveis é consequência do fracasso das medidas ultraliberais adotadas pelo governo Michel Temer e por Pedro Parente na gestão da Petrobras.

Diante deste cenário, a economista e professora da Universidade de São Paulo (USP), Laura Carvalho pontuou os 10 problemas evidenciados pela greve dos caminhoneiros.

1. A política equivocada de preços da Petrobrás, que para tentar corrigir o subsídio excessivo do governo anterior, passou a adotar o extremismo de mercado, deixando os preços absorverem toda a volatilidade dos mercados internacionais.

2. A falta de uma agenda de crescimento para resolução dessa crise econômica profunda. A crise atingiu em cheio o setor de transportes de carga, que por isso não consegue repassar para preços o aumento brusco do custos com combustíveis.

3. As deficiências do nosso regime de concessões rodoviárias, que não regula adequadamente os aumentos excessivos nas tarifas de pedágio.

4. O poder político excessivo das associações patronais, que estão sempre atuando para pressionar o governo por uma redução de impostos que beneficie os setores empresariais. Dada a agenda implementada de ajuste fiscal, isso acaba fazendo o custo da crise recair sobre os mais pobres, que sofrem com os cortes no Orçamento destinados a áreas prioritárias.

5. A grave injustiça tributária brasileira, que deveria ter peso muito menor de impostos sobre consumo, produção e renda do trabalho e muito maior sobre a renda do capital e o patrimônio.

6.
O excesso de vulnerabilidade a choques externos causada pela porta giratória de capitais especulativos de curtíssimo prazo, que entram e saem do país a partir das condições financeiras internacionais. A regulação desses fluxos é essencial para reduzir a volatilidade do preço do dólar em reais.

7. A falta de investimentos em malha ferroviária, hidroviária e metroviária, que leva à dependência excessiva do transporte rodoviário entre estados e dentro das grandes cidades.

8.
A dependência excessiva de combustíveis fósseis e a política equivocada de redução da CIDE durante o governo Dilma, que acabou prejudicando a produção de etanol.

9. A falta de incentivos à produção local familiar de alimentos, que faz com que haja enorme dependência de combustíveis para transportar hortaliças. O problema também explica o efeito recorrente de choques no preço dos alimentos sobre o nosso índice de inflação.

10. A falta de legitimidade de um governo não eleito, que faz com que a situação de crise abra espaço para rupturas democráticas ainda mais profundas.