O 'sim' vence em referendo na Irlanda e mulheres terão direito ao aborto legal

Este foi o posicionamento de 70% da população irlandesa neste sábado (25). A população foi às urnas para decidir se as leis sobre aborto no país deveriam mudar ou não. A decisão pela mudança, tomada pelo voto popular, legaliza o procedimento e garante o acesso irrestrito ao aborto para as mulheres com até 12 semanas de gestação.

aborto na irlanda - MAX ROSSI / REUTERS

A informação é da pesquisa boca de urna do Irish Times/Ipsos MRBI. Os eleitores do país de forte tradição católica optaram por ampla margem — 69% contra 32% –, mudar a constituição para tornar o aborto legal. Na capital Dublin, a escolha pelo "sim" se mostra significativa, com 77% dos votos, segundo o jornal Irish Times.

Os resultados oficiais ainda devem ser divulgados neste sábado (26), mas o porta-voz da campanha pelo "não ao aborto legal", já reconheceu sua derrota nesta manhã. "Não há nenhuma possibilidade que o texto [sobre a legalização do aborto] não seja adotado", declarou em entrevista à TV irlandesa RTE.

O país europeu tem atualmente uma das proibições mais rígidas do mundo à interrupção da gravidez. Segundo a 8ª emenda, um texto de 1983, o "o direito à vida do feto" é reconhecido, igualando os direitos de uma mulher grávida aos de um feto ainda no ventre.

A Lei só garante o acesso ao aborto caso a mulher esteja com perigo de vida real e iminente, inclusive sob risco de suicídio. Atualmente, uma irlandesa que decida interromper uma gravidez indesejada dentro do país pode ser condenada a até 14 anos de prisão.

O referendo define a anulação desta emenda, legaliza o procedimento e se transforma em um marco na trajetória de um país que, só duas décadas atrás, era um dos mais conservadores da Europa em questões sociais.

Leo Varadkar, que foi ministro da Saúde entre 2014 e 2016, reconheceu em entrevista ao jornal Irish Times que milhares de mulheres irlandesas têm de viajar a outros países para fazer aborto ou acabam por encomendar comprimidos pela internet, tornando os procedimentos pouco seguros e ilegais.

O primeiro-ministro também foi um dos grandes apoiadores de um outro referendo que aconteceu no país, em 2015, e legalizou o casamento homossexual. Ele revelou ser homossexual em uma entrevista transmitida por rádio à época e afirmou que o referendo é comparável a uma "revolução social".

Os eleitores formaram longas filas nas zonas eleitorais na sexta-feira (25). O comparecimento no referendo deste fim de semana foi um dos mais altos, relatou a emissora nacional RTE, possivelmente superando os 61% que apoiaram casamento homossexual por uma grande margem em 2015.