Na Argentina, Macri ilustrou muito bem o colapso da ilusão neoliberal

Nesses últimos dias, temos visto o relógio da História dar uma volta. E essa volta que ele tem dado atrás, sobretudo no caso aqui da nossa região, tem a ver com a situação econômica da Argentina.

Por Celso Amorim*
 

Mauricio Macri - El Político

A situação econômica da Argentina volta hoje a ser o que ela tinha sido no início do milênio, fim do século passado. Uma crise econômica importante, inclusive, obrigando esse nosso vizinho, amigo e irmão a buscar auxílio do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Obviamente, nós sabemos que auxílio do Fundo Monetário nunca vem de graça, vem com a imposição de uma série de regras que seguramente afetarão o bem estar social do povo argentino.

Mas o que eu quero dizer de importante em relação a isso, é que esse retrocesso, essa volta que está ocorrendo, ela ilustra também o colapso de uma ilusão, que é a ilusão neoliberal. De achar que pelo neoliberalismo tudo ia dar certo.

Olha, o neoliberalismo na Argentina produziu um enorme déficit em conta corrente, um déficit público imenso, com a taxa de câmbio sobrevalorizada para dar ilusão ao povo, para poder comprar bens mais baratos. Mas, evidentemente, prejuízo da produção industrial do país.

E, vejam bem, embora a situação no Brasil não seja a mesma, porque graças ao que foi feito antes nos governos Lula e Dilma o Brasil tem uma situação confortável em termos de reservas internacionais. Não deixa de ter uma certa ameaça e não ser uma certa advertência. Que essas políticas neoliberais têm seu limite. O limite delas é dado por esse déficit.

Um economista famoso brasileiro, não era absolutamente um homem de esquerda, costumava dizer: a inflação fere, mas o câmbio, mata.

E o que aconteceu na Argentina agora é isso. Uma crise cambial, muito forte, cujas consequências ainda não estão nítidas totalmente, mas certamente vão impor muitas limitações aos nossos vizinhos.

Não vejo isso com nenhuma alegria. Agora, vejo isso como uma constatação de onde podem levar as políticas neoliberais. Nessa nossa região já tão ameaçada, com a Unasul sendo desfeita.
O que é lamentável, porque a resposta para os problemas, latino americanos, não é a única resposta, mas em grande medida, está na integração. Agora, uma integração que só pode ser levada adiante por governos legítimos.

O Brasil que é um país que teria normalmente uma grande liderança na região, está sofrendo ainda os efeitos do golpe que foi a queda da presidenta Dilma. Das políticas neoliberais extremas que foram levadas adiante e a incapacidade de poder liderar um processo. Então, para que nós possamos mudar isso, precisamos realmente pensar seriamente no futuro do país, eleger uma liderança progressista para nossa presidência.

E, sobretudo, combater essas tendências, hoje muito curiosas, peculiares do Brasil, que misturam elementos do fascismo de extrema direita, com elementos de extremo neoliberalismo.