Escola Sem Partido avança com texto que proíbe uso do termo 'gênero'

A educação sofreu mais um ataque nesta terça-feira (08). Agora, o texto do projeto Escola Sem Partido, além de censurar os professores em sala de aula, também quer proibir o uso da palavra "gênero" e da expressão "orientação sexual" em sala de aula, mesmo em disciplinas "complementares ou facultativas". O texto foi aprovado pela comissão especial destinada a analisar o projeto e que é formada apenas por evangélicos.

Pedro Lucas Gorki: Por uma escola que tome partido - Foto: Alex Sander Magdyel / Agencia RBS

Segundo o parecer, "a educação não desenvolverá políticas de ensino, nem adotará currículo escolar, disciplinas obrigatórias, nem mesmo de forma complementar ou facultativa, que tendam a aplicar a ideologia de gênero, o termo 'gênero' ou 'orientação sexual'".

Ainda em seu voto, o relator do texto deputado Flavinho (PSC-SP), criticou aqueles que afirma pregarem a "ideologia de gênero": "A maioria esmagadora tanto de intelectuais quanto da população em geral acredita que homem é homem e mulher é mulher", disse.

Para ele, não há precedente que prove que "uma sociedade sexualmente plural seja realmente sustentável a longo prazo". "O que sabemos por experiência concreta é que uma cultura heteronormativa foi imprescindível à perpetuação da espécie humana e ao desenvolvimento da civilização ocidental."

Diante deste cenário, fica nítido que o projeto Escola Sem Partido, também conhecido como Lei da Mordaça, tem como base o cerceamento da liberdade de expressão e agora, da liberdade e igualdade de gênero.

O projeto de lei é fortemente rejeitado por especialistas e educadores. O jornalista Leonardo Sakamoto publicou um texto em seu blog criticando o projeto.

“É o pacote construído e lapidado, ao longo da história, por nós, homens, para forçar e justificar a dominação não apenas sobre as mulheres, mas também contra a população LGBTT – pacote distribuído pela igreja, pela família, pelas escolas, por veículos de comunicação”, disse em publicação.

Para ele, isso é “a ideologia que naturaliza a mulher ganhar menos que o homem pela mesma função no trabalho; que relaciona apenas a ela as tarefas domésticas e o cuidado com as crianças e os mais velhos; que a transforma em objeto de prazer para ser violentado dentro da própria casa e alvo de ejaculação em trens e ônibus; que chama o assédio sexual e desrespeito de ''simples elogio'' ou ''brincadeira''; que declara seu corpo como propriedade masculina, tentando proibir até abortos em caso de estupro; que faz com que elas se sintam culpadas pela violência que sistematicamente sofrem; que explica por ''mérito'' e não por ''histórica desigualdade'' o fato de haver muito mais homens do que mulheres nos parlamentos, governos, tribunais e conselhos de empresas; que interrompe a fala da mulher, tenta explicar como se ela fosse incapaz de compreender o mundo e faz com que acredite estar ficando louca; que torne o disparate tão normal a ponto de nunca ser preciso pedir desculpas. Pelo contrário, esperamos delas a desculpa pela nossa agressão”.

Ele ainda aponta que a educação oferecida com a Escola Sem Partido não irá conscientização do futuro trabalhador ou considerar a realidade da sociedade, impedindo que haja um senso crítico.