Pobreza e gênero são barreiras para jovens sem trabalho e sem estudo

Uma pesquisa realizada pelo Banco Mundial apontou que um quarto da população brasileira entre 15 e 29 anos, ou seja, 11 milhões de jovens não estudam nem trabalham porque estão presos em barreiras relacionadas à pobreza e ao gênero.

Jovem sala de aula - Reprodução

O estudo “Se já é difícil, imagina para mim – uma perspectiva qualitativa sobre os jovens que nem estudam, nem trabalham no Brasil”, do Banco Mundial, foi realizado por meio de 77 entrevistas qualitativas com jovens pernambucanos de 18 a 25 anos, moradores tanto de zonas urbanas quanto das rurais, e revelou que 11 milhões de jovens brasileiros (dos 15 aos 29 anos) estão presos em barreiras relacionadas à pobreza e ao gênero, prejudicando sobretudo as mulheres.

O Banco Mundial listou três barreiras que limitam a ascensão educacional e no trabalho: desmotivação pessoal, percepção de incapacidade e falta de políticas públicas, como transporte, creches e oportunidades de trabalho, ou seja, quando faltam as ferramentas necessárias para realizar essa aspiração.

No caso da desmotivação pessoal, ou seja, falta de aspiração ou predisposição para voltar aos estudos ou ao trabalho. Nesse perfil, as meninas são as mais afetadas por serem levadas a acreditar que devem ser donas de casa ou mães, sem adquirir um papel socialmente ativo no mercado de trabalho.

Já a percepção de capacidade acontece frequentemente tanto no âmbito educacional quanto profissional. A falta de perspectiva faz com que os jovens não se sintam motivados ou mesmo capazes de estudar ou de conseguirem um emprego. Embora muitos dos entrevistados tenham se inscrito no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou enviado currículos, não deram continuidade a esses esforços.

Para a autora do estudo, a cientista social alemã e especialista em gênero do Banco Mundial Miriam Müller, é preciso desconstruir o termo “nem-nem”, que não reflete as muitas diferenças entre esses jovens e joga sobre eles um enorme estigma.

“A culpa não é dos jovens. O estudo mostra que algumas condições relacionadas à pobreza e ao gênero produzem um conjunto de barreiras difíceis de superar. Essas limitações prejudicam sobretudo as mulheres, que se veem afetadas na capacidade de imaginar seus futuros, perseverar e ter resiliência”, avaliou Müller.

As barreiras externas enfrentadas por esses jovens vão desde os desafios de conciliar emprego e sala de aula com a falta de recursos financeiros ou qualificação, falta de transporte público seguro para se locomover entre uma atividade e outra, e a crise econômica do país. As jovens que já são mães ainda informaram que há discriminação por parte de potenciais empregadores.

De acordo com o documento, esses jovens não tiveram contato com pessoas cujas carreiras fossem interessantes, e assim, não conseguiram encarar suas aspirações como algo realista nem receberam informações sobre como realizá-las.

O texto aponta ainda que a escola também faz parte desse impedimento ao se fazer ausente e não apoiar esses jovens, para que eles criam perspectiva de estudo e de trabalho.

Com isso, que essas barreiras sejam superadas, o estudo propõe que sejam abordadas as normas de gênero, tanto no ambiente familiar quanto escolar. Dessa forma, as meninas poderiam mudar o pensamento que já está atrelado vivendo às normas sociais que reforçam o papel de cuidadoras e consequentemente, restringem suas oportunidades econômicas.