Bancos e cervejarias têm descontos de 50% em dívidas com União

Bancos e fabricantes de bebidas – dois setores que costumam colecionar enormes lucros – foram os mais beneficiados pelo Refis, programa de parcelamento de dívidas tributárias do governo. A partir da adesão ao refinanciamento, o governo concedeu a eles abatimentos que ultrapassam 50% do valor da dívida inscrita. Enquanto dá esse tipo de benesse ao topo da pirâmide social, a gestão Temer corta verbas para políticas sociais e direitos dos trabalhadores.

lucro dos bancos

As novas regras do programa de refinanciamento de débitos tributários, o Refis, bem mais generosas com sonegadores e mau pagadores, estabelecem que grandes devedores, após quitação de 20% do total de sua dívida, podem parcelar o restante em 180 vezes com descontos sobre juros de até 90% e sobre multas de até 70%.

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, as mil maiores dívidas inscritas no Refis obtiveram descontos de R$ 11,7 bilhões, o que representa um terço do total. E o setor bancário – que manteve seus ganhos bilionários, mesmo durante os piores momentos da recessão brasileira – concentrou os maiores descontos.

Segundo o jornal paulistano, quatro instituições abateram mais da metade de sua dívida: Itaú Unibanco, Safra, Santander e Rural (em liquidação extrajudicial). Juntos, esses bancos negociaram uma dívida de R$ 657,3 milhões e, no final, ficou acordado que teriam que pagar apenas R$ 302 milhões.

Vale lembrar que, em 2017, somente o Itaú alcançou o maior lucro de uma instituição financeira na história do Brasil: R$ 24,8 bilhões. Além disso, Joseph Safra, do Banco Safra, é apontado como o banqueiro mais rico do mundo e o segundo homem mais rico do país, com uma fortuna avaliada em 22,4 bilhões de dólares (71 bilhões de reais).

Outro dado importante é que o setor bancário fechou 17.905 postos de trabalho em 2017, de acordo com dados do Caged. Ou seja, os ganhos expressivos que se dão às custas de tarifas e juros extorsivos, não se revertem em empregos, pelo contrário.

Apesar de tudo isso, os bancos – que aparentemente não deveriam ter dificuldades em pagar suas obrigações fiscais em dia – estão entre os maiores devedores da União. E, mesmo assim, são agraciados com esses descontos nas suas dívidas, um descabido estímulo para que continuem a agir desta maneira.

Inscritos no Refis, Ambev e Heineken também acumularam descontos acima de 50% nos seus débitos. Na Cervejaria Petrópolis (Itaipava), o corte foi de 42,5%. Juntas, elas renegociaram dívidas de R$ 451,8 milhões. Nada mal para os donos das empresas. No caso da Ambev, três de seus sócios figuram entre os seis homens mais ricos do Brasil. Jorge Paulo Lemann, dono da primeira multinacional brasileira, tem uma fortuna estimada em 30 bilhões de dólares (pouco menos de 100 bilhões de reais).

A reportagem da Folha informa que casos de descontos similares, mas pontuais, entre grandes empresas de outros setores, como Braskem e Volkswagen.