Orlando Silva: Só o povo pode decidir os participantes das urnas 

Em entrevista ao site HuffPost Brasil, o líder do PCdoB na Câmara, deputado Orlando Silva (SP), fez uma análise do cenário político atual e falou sobre as estratégias do partido para fortalecer a pré-candidatura de Manuela D’Ávila ao Planalto.

Manuela em São Paulo

“Temos procurado dialogar com os meios de comunicação. Ela [Manuela] tem feito uma série de entrevistas com a imprensa nacional e internacional, que é um primeiro esforço que dá visibilidade não só ao nome dela, mas à agenda que ela propõe para o Brasil. E há um esforço muito concentrado nas redes sociais. Apostamos muito que lá teremos oportunidade de consolidar e ampliar a presença dela”, afirmou o deputado comunista.

Segundo ele, desde que a pré-candidatura de Manuela foi lançada, em novembro do ano passado, as primeiras sondagens eleitorais posicionam a deputada estadual gaúcha “de modo satisfatório”.

Ele explica que em cenários em que o ex-presidente Lula não está inserido (ele tem sido apontado como favorito), Manuela chega a alcançar 3% de intenções de voto em nível nacional. “Para uma candidatura recém-lançada, é uma bela performance”, avalia.

“Ela alcança um patamar acima, por exemplo, do Fernando Haddad, que foi prefeito da cidade de São Paulo, ministro de Estado por quase uma década, de uma área sensível que é a educação. A primeira impressão que nós temos é de um impacto positivo da candidatura. Ela tem 2 dígitos no Rio Grande do Sul, base dela. Na região Sul, pesquisas a colocam com cerca de 6% de intenções de voto em uma região importante politicamente”, frisou.

Lula

Orlando, no entanto, voltou a defender o direito do ex-presidente Lula de ser candidato, caso contrário, o processo eleitoral seria “maculado”.

“Nós queremos que o povo decida quem quer eleger presidente da República”, disse. “Consideramos que quem pode decidir de modo democrático os participantes ou vitoriosos das urnas é o povo. Nós consideramos que tirar o Lula no tapetão, como é risco, tirando ele do processo eleitoral por uma sentença de 2ª instância e um processo complexo, em que não se produziu provas, isso pode fragilizar a débil democracia brasileira”, disse, se referindo aos processos judiciais que o ex-presidente enfrenta e classificados por diversos juristas como parciais e políticos.

O deputado pontuou que a candidatura do PCdoB é legítima do processo democrático e de um partido com a história do PCdoB. “E Lula sendo ou não candidato, nós defendemos que o PCdoB deve apresentar sua candidatura. Nós não torcemos contra a candidatura do PT. Nós acreditamos que o PT tem legitimidade social e política para ter uma candidatura e nós queremos ter a nossa candidatura para vocalizar os nossos pontos de vista”, asseverou.

Sobre as perspectivas eleitorais do partido, o líder da bancada do PCdoB disse que a candidatura da Manuela D’Ávila também cumpre o papel de fortalecer as candidaturas regionais e, assim, elevar o número de candidatos eleitos.

“Com ela, temos a convicção que vamos superar a cláusula de barreira com folga. As outras fases da cláusula de barreira são outros desafios que temos que enfrentar. Temos que trabalhar muito para superar e quem sabe na próxima legislatura efetivamente fazer uma reforma política que permita um sistema político mais eficiente, partidos mais representativos, uma democracia direta participativa, em que o povo interfira nos rumos. Porque até aqui o Brasil deve à população uma reforma política de verdade”, enfatizou.

Atualmente, a cláusula de barreira obriga os partidos políticos a terem 1,5% dos votos para a Câmara Federal.

Orlando disse ainda que o PCdoB abriu um diálogo com o Frente Favela Brasil, partido recém-criado e que deve ter as candidaturas abrigada na legenda.

“O PCdoB se colocou numa posição de ser uma legenda democrática para abrigar esse movimento que é legítimo, quer ser um partido, mas não terá condição de disputar como legenda própria nessa eleição, então nós abrimos nossa legenda para que eles possam participar porque temos identidade com muitas das ideias que eles apresentam”, adiantou.

Alianças

Sobre as candidaturas estaduais, Orlando destacou a de Flávio Dino, governador do Maranhão, que ele considera como primordial para o partido. O governador já é apontado como favorito nas pesquisas, com mais de 60% das intenções de voto.

“Fora o Flávio Dino, nós vamos priorizar algumas candidaturas ao Senado. Tem em Minas Gerais com a [deputada] Jô Moraes. A Vanessa Grazziotin, nossa senadora do Amazonas. Estamos analisando uma candidatura na Bahia. No Mato Grosso, tem a reitora da universidade. Estamos avaliando nomes, mas não há nada maduro [além dos três nomes citados]”, adiantou.

Sobre eventuais alianças eleitorais, Orlando destacou que o Brasil é um país continental e que verticalizar o processo eleitoral seria um “desastre”.

“O Supremo Tribunal Federal tentou com uma instrução normativa. Mas não é possível você imaginar que, de norte a sul, de leste a oeste, você terá grupos monolíticos em torno de algumas candidaturas”, destacou.

E completa: “Nós temos um programa, o partido tem alianças estaduais que levam em conta também temas da conjuntura local. O apoio do PCdoB ao candidato a governador tem como um dos requisitos abrir o palanque para a candidatura da Manuela D’Ávila”.

Falando especificamente de São Paulo, sua base eleitoral, Orlando disse que se o PCdoB apoiar Márcio França, do PSB, ao governo do estado, o requisito é o mesmo: ter o espaço aberto para Manuela.

“O PCdoB em São Paulo dialoga com o Luiz Marinho, candidato do PT, e Márcio França, candidato do PSB. Nós temos conversado junto com o PDT porque a nossa ideia é sempre trabalhar na lógica de formação de um campo. Se o PDT e PCdoB apoiarem o PT, será formado um campo: PDT, PCdoB e PT. Se nós apoiarmos o PSB, terá um campo de esquerda PDT, PCdoB e PSB e os outros aliados que o Márcio tem dialogado. Ele tem conversado com o PPS, PR, PSC e nós estamos em uma fase de avaliação. Em 17 de março, o PCdoB deve decidir que candidatura apoiará a governador em São Paulo. Até lá estamos elaborando um manifesto com algumas ideias programáticas chave para balizar a decisão”, contou.

Orlando disse ainda que a decisão vai levar em conta a aderência à proposta do PCdoB de um programa mínimo para a candidatura e o debate feito concretamente com as lideranças em São Paulo.

“Temos um projeto eleitoral que pode ter mais ou menos fôlego em uma ou outra aliança. Tem realidades locais. Se eu falei que o Brasil é um continente, São Paulo são mais de 600 municípios. É uma diversidade muito grande. Nós teremos uma chapa própria de candidatos a deputado estadual, então nós vamos consultar as principais lideranças para decidir qual a melhor opção”, explicou.

Maia

Questionado sobre a postura de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados e pré-candidato à Presidência, Orlando afirmou que Maia “tem tido da postura que deve ter um presidente da Câmara”.

“Nessa legislatura, nós ficamos traumatizados com o [ex] presidente Eduardo Cunha, que era muito duro, virou líder de um bloco conservador. O que o Rodrigo Maia tem feito é obrigação dele. Dialogar com a base, dialogar com a oposição”, afirmou.

Segundo do deputado, a gestão de Cunha buscou tratar temas de foro íntimo, matérias de comportamento individual como se fosse a posição de todos os deputados do parlamento.

“Isso o Eduardo Cunha manipulou para agregar uma parcela conservadora do Parlamento e manipula inclusive o eleitorado. Eu, por exemplo, me recuso a usar a expressão ‘bancada evangélica’. Os evangélicos compõem uma parcela da população brasileira e grande parte das teses que a chamada ‘bancada evangélica’ defende aqui não tem adesão entre os evangélicos”, defendeu o deputado.

Porém, Orlando afirmou que a crítica que faz à gestão de Maia é a de que muitas vezes ele se comporta como líder da bancada do governo.

“Isso é errado porque o presidente da Câmara tem que presidir a Câmara e não representar uma facção de parlamentares”, advertiu.