Uso de militares no Rio tapa falta de políticas sociais há anos

 A exemplo do que ocorre atualmente com o governo de Michel Temer tentando equacionar recursos em meio à crise fiscal para investir na medida de intervenção federal na Segurança do Rio de Janeiro, reportagem de três anos atrás de Carina Bacelar, no Estadão, revelou um outro viés do problema.

Exército no Rio de Janeiro - Foto: Leo Correa / AP

 Enquanto os investimentos da Prefeitura do Rio de Janeiro desde 2009 até 2015 foram de R$ 303,63 milhões à época para a área de programas sociais, em pouco mais de um ano, as contas da capital fluminense gastaram quase o dobro para a ocupação militar nas favelas da Maré, na zona norte.

A atuação da Força de Pacificação, que contava com a execução das Forças Armadas, gerou um desembolso de R$ 599,6 milhões, em valores da épooca, durante 15 meses. Ainda, daquela quantia investida em programas sociais pela Prefeitura do Rio, apenas R$ 69,98 milhões foram realmente colocados em prática, saindo do papel, até junho de 2015.

Em resposta à repórter, o então Secretário Estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, admitia que o uso das forças armadas deveria ser "a ponta do iceberg" ou a "seta da flecha", ou seja, em últimas circunstâncias, afirmando que a política atua sobre a consequência e não a causa dos problemas.

"O problema da violência urbana não é um problema único e exclusivo da polícia. Nunca se discute as causas da violência, e a polícia trabalha com a consequência. Se ficarmos com esse olhar estreito, míope, de que a polícia vai resolver tudo, esses problemas vão se prolongar por mais um tempo", afirmou, naquele ano, Beltrame.

Como forma de contexto, Carina Bacelar lembrou dados do IBGE que apontavam que a Maré estava em 19º na lista de menor ìndice de Desenvolvimento Social no Rio, entre 160 bairros.

Consultado pela reportagem do Estadão, o coordenador da ONG Observatório de Favelas defendia que UPP deveria significar Unidade de Políticas Públicas e não de polícia. "Para a gente, o território de favela é um território de potência. É na favela, nas periferias, que, com pouco investimento, se inventa muita coisa"

"Você não deveria começar um processo de mudança de um território com uma ação policial, uma ação bélica, uma ação ofensiva", concluía.