Professores demitidos da Metodista não se reintegrarão à instituição

Oito professores demitidos da Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, elaboraram uma carta aberta à Universidade para compartilhar a decisão de não se reintegrarem à instituição. As 66 demissões feitas pela Metodista no final do ano passado sob a justificativa de falta de orçamento foram posteriormente suspensas pela Justiça do Trabalho.

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Segundo os professores, a decisão os colocou “numa situação terrível”. “A audiência foi marcada para 19 de fevereiro e até lá não somos nem professores na ativa com salário, nem demitidos com direito às verbas rescisórias”, trazem em um trecho da carta alegando graves dificuldades financeiras.

Os ex-docentes do Programa de Pós Graduação em Comunicação Social da Metodista alegam que, além de viverem a situação, testemunham a “destruição de um projeto” que completa 40 anos este ano. Por essa razão, compartilham a decisão de não retornarem à instituição com colegas demitidos e não demitidos pela instituição e com alunos/orientandos “submetidos às terríveis consequências de todo o processo”.

Entre as justificativas para a decisão, os professores acusam a Universidade de desprezar a Pós Graduação e pesquisa, descartar de colaboradores sem diálogo e colegialidade e praticar ações que desrespeitam os profissionais.

“Uma reintegração só seria possível com um renascimento da Metodista e a recomposição do seu corpo diretivo com educadores comprometidos com o ensino e a pesquisa de qualidade, com ética e transparência nas ações”, cita um dos trechos da carta.

Os docentes alegam que a decisão não significa a saída do movimento “Em Defesa da Metodista”, que é articulado por professores da instituição. Assinam a carta aberta os docentes Cicília Maria Peruzzo, Daniel dos Santos Galindo, Elizabeth de Moraes Gonçalves, José Salvador Faro, Magali do Nascimento Cunha, Marli dos Santos, Sebastião Carlos Squirra e Wilson da Costa Bueno.

Confira a carta na íntegra:

Carta aberta dos ex-docentes do POSCOM-Metodista à Comunidade Acadêmica Passados quase dois meses das 50 demissões de professores da Universidade Metodista de São Paulo, soa inacreditável que ainda estejamos à espera de um tratamento digno em relação aos nossos direitos como trabalhadores da educação. O pedido de reintegração dos demitidos, encaminhado pelo Sinpro-ABC à Justiça do Trabalho, diante da arbitrariedade e da iniquidade que nos foi imposta, resultou na suspensão das demissões pela Juíza Valéria Pedroso de Moraes, da 8a Vara do Trabalho de São Bernardo do Campo. No entanto, isto nos colocou numa situação terrível: a audiência foi marcada para 19 de fevereiro e até lá não somos nem professores na ativa com salário, nem demitidos com direito às verbas rescisórias.

Estão sendo impostas graves dificuldades financeiras aos docentes descartados pela Metodista, algo inconcebível diante da história dessa instituição e de tudo que ela representa no contexto educacional do nosso país.

Nós, agora ex-docentes do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Metodista, além de termos que viver esta situação, testemunhamos a destruição de um projeto do qual celebraríamos 40 anos neste 2018. Por isso, dirigimo-nos aos nossos colegas, demitidos e não demitidos da Metodista, àqueles vinculados a outras instituições, e aos nossos alunos/orientandos, que foram submetidos às terríveis consequências de todo este processo, para compartilhar a decisão de não reivindicarmos nossa reintegração.

Não há como retornar para uma instituição cujo corpo diretivo despreza a Pós-Graduação e a pesquisa e rejeita uma história de 40 anos de realizações, que tornaram o Poscom e seus quadros reconhecidos nacional e internacionalmente.

Não há como nos reintegrarmos a uma instituição, cujo corpo diretivo nos descartou sem qualquer consideração dos trâmites universitários, que implicam diálogo e colegialidade. Com isto, desvale compromissos firmados com entidades governamentais de apoio à pesquisa que concederam ao programa financiamento de projetos pesquisa e bolsas de estudos.

Não há como nos vincularmos novamente a uma instituição cujo corpo diretivo é inumano e nega as raízes confessionais e os valores que embasam sua atuação, com práticas de total desrespeito à dignidade dos profissionais que a sustentam.

Uma reintegração só seria possível com um renascimento da Metodista e a recomposição do seu corpo diretivo com educadores comprometidos com o ensino e a pesquisa de qualidade, com ética e transparência nas ações.

Isto não quer dizer que estamos deixando o movimento e a luta “Em Defesa da Metodista”. Reafirmamos nosso compromisso ativo com a causa de todos os professores demitidos em ver respeitados seus direitos trabalhistas legais e legítimos seja por meio de reintegração seja por meio de um justo processo rescisório.

Reafirmamos também nosso respeito e carinho pelos nossos orientandos, acima de tudo nossos amigos e amigas, que tanto nos apoiaram e continuam dando suporte, desde o primeiro momento deste turbilhão que nos abateu. Esperamos um tratamento digno aos seus projetos da parte do corpo diretivo da Metodista.

Finalmente, registramos nosso mais profundo agradecimento aos nossos colegas, ex-alunos/orientandos, que se engajaram na nossa causa e tomaram para si nossas frustrações e dores. Também toda a nossa gratidão à diretoria da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação, a COMPÓS, e aos colegas do Fórum de Programas de Pós-Graduação em Comunicação de São Paulo, pelas ações junto ao corpo diretivo da Metodista. Expressamos ainda nosso reconhecimento às manifestações tão significativas de colegas de outras instituições, do Brasil e do exterior, que proclamaram sua indignação com a injustiça que sofremos e ofereceram apoio solidário incondicional. Isto jamais será esquecido por nós.

Somos,

Cicília Maria Krohling Peruzzo
Daniel dos Santos Galindo
Elizabeth de Moraes Gonçalves
José Salvador Faro
Magali do Nascimento Cunha
Marli dos Santos

Sebastião Carlos de Morais Squirra
Wilson da Costa Bueno