O que esperar da nova estratégia militar dos EUA 

O governo norte-americano apresenta a sua nova estratégia de defesa nacional, em que será expressa a preocupação com a evolução tecnológica das duas potências e a evolução dos seus objetivos globais; depois da divulgação da nova estratégia de segurança nacional por Trump em dezembro de 2017, o novo documento gera receios. Enquanto isso, China cresce cada vez mais

Por Alessandra Monterastelli *

Donald Trump e exército norte-americano

O receio vem devido ao avanço da China, tanto em termos econômicos como de desenvolvimento e influência. Os esforços chineses para se aproximar de países e fazer aliados avançam cada vez mais, com sucesso. Enquanto a administração de Trump rompe acordos, questiona alianças e fere direitos internacionais (como no caso da Palestina, por exemplo) o gigante asiático impulsiona os laços políticos, culturas e sociais, com destaque para a América Latina; as viagens constantes de Xi Jinping seguem a proposta de construir "uma comunidade de futuro compartilhado". Além disso, o crescimento chinês segue a proposta de socialismo com características chinesas para uma “nova era”, plano anunciado por Xi Jinping no último congresso do Partido Comunista Chinês, em 2017.

O governo de Xi promete aos chineses o foco nas necessidades materiais e culturais, na demanda por democracia, Estado de direito, equidade, justiça, segurança e um ambiente melhor. O Partido, enfim, busca dar a sua população uma vida melhor e obter relações “harmoniosas” com os outros países, através de intensas agendas diplomáticas, ocupando um espaço deixado (e agora também desgastado, diante da postura agressiva da administração Trump) pelos Estados Unidos.

A Rússia também aumentou a sua influência e boas relações, espacialmente após sua ajuda ao governo sírio contra os terroristas do Estado Islâmico. Agora, esses dois países devem passar para o centro das preocupações dos Estados Unidos na nova estratégia de defesa nacional, assumindo a posição de destaque ocupada pelo terrorismo desde os ataques em território norte-americano do 11 de setembro.

O objetivo, explica o Financial Times, que falou com pessoas que conhecem uma versão prévia do documento, é garantir a “preparação” dos EUA para enfrentar supostos conflitos com as duas potências. “A China e a Rússia fizeram grandes avanços em tecnologias com que as nossas forças nunca se confrontaram desde o fim da era da Guerra Fria”, comentou ao jornal britânico David Ochmanek, um ex-responsável do Pentágono.

Em dezembro de 2017, Trump apresentou a nova estratégia de segurança nacional, documento que definiu a China e a Rússia como “potências rivais” que ameaçam o poder econômico e a segurança dos Estados Unidos e que tem o objetivo de "desgastar a segurança e a prosperidade da América". O relatório foi duramente criticado pelos países citados. Dmitri Peskov, o porta-voz do Kremlin, apontou que “o caráter imperialista” do documento é “obvio”, enquanto que a China apelou para um desenvolvimento pacifico: "pedimos aos Estados Unidos que deixem de distorcer os interesses estratégicos da China e que abandonem o 'jogo de soma zero' e a mentalidade da Guerra Fria”.

O documento que será apresentado nessa sexta-feira (19), sobre a nova estratégia de defesa nacional, tem o objetivo de apresentar ao Congresso norte-americano os desafios militares para os próximos anos e como o executivo espera lidar com eles. É um documento de orientação para os legisladores, com o objetivo de explicar quais são as necessidades dos militares.

Espera-se que a disputa no ciberespaço seja uma prioridade, informa o jornal português Público. Além disso, alerta o jornal, o documento sobre a postura nuclear está sendo revisado- que passaria a permitir o uso de armas nucleares em resposta a ataques de grande escala, com resultados devastadores nas infraestruturas dos EUA, noticiou o New York Times.

Até agora, a doutrina norte-americana só previa a ameaça do uso de armas nucleares (tirando seu uso como resposta a um primeiro ataque nuclear) em situações muito limitadas – por exemplo após um ataque com armas biológicas. Mas o novo documento, diz o jornal de Nova Iorque citado pelo Público, é o primeiro a aumentar a possibilidade do uso inicial de armas atômicas como resposta a tentativas de destruição em larga escala da infraestrutura norte-americana, por exemplo a um ciberataque.