Queda na atividade econômica esvazia discurso de Temer

Dados do próprio Banco Central contradizem o discurso oficial do governo, que alardeia o fim da crise e a retomada do crescimento. De acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a atividade econômica registrou queda em agosto de 0,38% (com ajuste sazonal). Mesmo depois do resultado positivo dos dois meses anteriores, no acumulado de 12 meses, o indicador teve retração de 1,08%, ou seja: recessão.

Por Joana Rozowykwiat

Michel Temer - Ueslei Marcelino/Reuters

Sem legitimidade, sem apoio popular e envolvido em denúncias de corrupção, o presidente Michel Temer tem tentado se manter no cargo, apelando para a economia.

De um lado, faz agrados à elite econômica que deu sustentação ao golpe. São afagos que vão do perdão a dívidas de empresários sonegadores, passam pela leniência e reverência ao sistema financeiro, e chegam ao desmonte e à privatização de serviços públicos, abrindo espaço para o setor privado. A última novidade foi a portaria que modificou o conceito de trabalho escravo para dificultar o combate a esta prática, uma demanda da bancada ruralista.

Na outra ponta, o governo tenta convencer a população de que colocou a economia “nos trilhos”. Temer e seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se esforçam para fazer com que os brasileiros acreditem que a recessão ficou para trás – e tudo por intervenção da atual política econômica. Ambos celebram pela mídia um cenário ilusório de equilíbrio econômico, inflação baixa, mais empregos e crescimento econômico, que não é respaldado pelos indicadores.

E não estão sós nessa tarefa de repetir a mesma falácia tantas vezes, na expectativa que ela vire verdade. Na primeira sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara para analisar a segunda denúncia contra Temer, nesta terça (17), os parlamentares que tentam salvar mais uma vez a pele do presidente insistiram na estratégia de mostrar números e mais números e dizer que o país caminha para uma maior estabilidade nessa área.

“A inflação, que era 11% e agora é 2%, os empresários de supermercado estão dizendo que aumentou o poder de compra. A comida está mais barata, a roupa está mais barata, morar está mais barato”, disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), aliado de Temer.

Em carta enviada a sua base na Câmara, apelando para o engavetamento da denúncia contra si, Temer encaixou o tema. "Foi a iniciativa do governo, somada ao apoio decisivo da Câmara e do senado, que possibilitou a retomada do crescimento no país (…) O Brasil cresceu e vem crescendo", escreveu.

O presidente e seus parlamentares esqueceram de mencionar duas coisas. Primeiro, Temer é acusado por organização criminosa e obstrução à Justiça, nada a ver com economia. E, em segundo lugar, é muito cedo para comemorar resultados positivos mesmo na economia. Foi o que disse, por exemplo, o coordenador do IBGE, Cimar Azeredo, no fim do mês passado, ao comentar os dados do desemprego. Para ele, afirmar que o pior já passou é "muito otimismo".

O governo e os parlamentares que comemoram a queda na inflação, não dizem, por exemplo, que o recuo nos preços tem a ver mesmo é com a própria recessão. E não com qualquer medida levada adiante por Temer – a não ser pelo fato de que algumas delas ajudaram a profundar a crise. Com desemprego alto, renda em queda e falta de confiança para fazer investimentos, a redução da inflação era mais que natural.

E, após uma queda acumulada de quase 7,3% entre 2015 e 2016, a economia brasileira ter registrado um avanço de 1% e de 0,2% no primeiro e segundo trimestres de 2017, respectivamente, não significa necessariamente o fim da crise. Os novos dados do Banco Central, que funcionam como uma prévia do PIB, reforçam a ideia de que não há retomada sustentada do crescimento.

A eles, soma-se outro indicador ruim, divulgado na última terça (17). O volume do setor de serviços – o maior do país – caiu 1,0% em agosto, frente a julho (na série com ajuste sazonal). Foi o pior resultado para o mês nesta base de comparação desde o início da série histórica, em janeiro de 2012, informou o IBGE. Contrariando o discurso de Temer e seus aliados.