Mulheres indígenas assumem a linha de frente na luta por direitos

Elas têm se destacado nas batalhas políticas pela demarcação de terras indígenas e ocupado espaços inclusive no mundo acadêmico, mas ainda enfrentam o machismo e a discriminação.

mulher indigena

"A mulher tem força. A gente descobriu o nosso direito. A gente vai lutar pra que o direito das mulheres indígenas seja reconhecido, no Brasil inteiro, para a gente viver em paz, tanto dentro da cultura não indígena, quanto dentro cultura indígena", diz Maria Arapoty dos Santos.

Ela é uma das líderes da aldeia guarani localizada no Pico do Jaraguá, em São Paulo, que agora luta pela sobrevivência da comunidade, ameaçada após decisão do ministério da Justiça que revogou a demarcação da reserva ali criada em 2015.

Nascida em uma aldeia no Paraná, veio para São Paulo ainda menina com o sonho de conhecer a cidade grande. "A gente vivia muito isolado, não tinha acesso a nada, nem estudo, mas a vida era boa". Hoje, Maria diz que gostaria de passar os dias integrada à natureza.

Mas Maria é apenas um dos diversos exemplos de mulheres indígenas que estão cada vez mais engajadas na luta política pela preservação e demarcação de suas terras. Como as outras mulheres, elas também se dividem na luta por direitos e os cuidados às crianças e com a aldeia.

A reportagem de Vanessa Nakasato para o Seu Jornal, da TVT, mostra que muitas delas também trabalham fora e estudam, enfrentando a tripla jornada, que sobrecarrega as mulheres devido à divisão desigual dos trabalhos domésticos entre homens e mulheres. Segundo a coordenadora do grupo Aldeias, Sônia Barbosa, a mulher indígena "pode fazer o que quiser", e com a mesma força e garra dos homens.

"A gente precisa conscientizar as pessoas sobre quem somos nós e o porquê de estarmos aqui, a necessidade da demarcação de terra. Temos que expandir essas falas e mostrar que as mulheres não são só para ficar dentro de casa, lavando e cozinhando. Ela também tem a força de politicamente estar fazendo esse trabalho dentro da comunidade", ressalta Sônia.

Patrícia Rodrigues, a Pagu, também veio de uma pequena aldeia de Pernambuco para São Paulo. Hoje socióloga e assessora do vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), em seu trabalho de pesquisa, ela pretende desmistificar a visão atrasada e de submissão que a sociedade tem da mulher indígena.

Ela diz que, em todas as etnias pesquisadas, é possível identificar um processo em que as mulheres tomam a frente na luta por direitos. "A mulher indígena tem tomada de decisão dentro dos processos internos na aldeia. Ela é ciente dos processos de luta por demarcação e de enfrentamento à violência, estuda e transita em diversos espaços", diz a pesquisadora.

Pagu destaca a importância das mulheres indígenas tomarem posições também no mundo acadêmico. "Em vez de a gente ser objeto de estudo, passa a falar sobre nós mesmas, para fora, e lutar na frente, na liderança dos nossos próprios processos. A gente, em alguma medida, abandona ou diz não ao processo de tutela que vivia até pelo menos a Constituição de 1988."