Eleições na Alemanha: Merkel reeleita e guinada à direita

O resultado das eleições deste domingo (24) rendeu o quarto mandato a Angela Merkel. Mas as urnas nos mostram, além da baixa popularidade da chanceler reeleita e de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), que com 32,9% obteve sua pior marca desde 1949 – e ocupará 70 cadeiras a menos do que na atual legislatura –, a queda dos sociais-democratas (SPD), que com os 20% dessa eleição registraram sua pior votação do período pós-segunda guerra.

Por Thiago Cassis

Angela Merkel - Reuters

Este enfraquecimento do SPD e da CDU aponta para o crescimento da extrema-direita alemã. Como já vinha sendo noticiado pelas pesquisas mais recentes, a Alternativa para a Alemanha (AfD), com os 13% obtidos nas urnas no pleito desse domingo, vai ocupar 94 cadeiras no parlamento alemão. A extrema-direita representada pelo AfD, obteve mais votos do que a esquerda, que conquistou apenas 8,9% dos eleitores germânicos, mesmo número alcançado pelos verdes.

Os liberais-democratas, da FDP, conseguiram 10,5% dos votos e estão cotados para compor a coalizão do novo governo com Merkel e seu CDU.

A AfD foi fundada em 2013 e tem crescido com um discurso inflamado contra a União Europeia e o apoio a países como a Grécia, além de levantar as bandeiras anti-imigração e anti-Islã. Com slogans como “Alemanha para os alemães”, tem conseguido angariar apoio criticando a globalização e reforçando a necessidade da criação de novos postos de trabalho para os nativos.

A região onde a legenda obteve maior apoio foi nos estados que antes formavam a antiga Alemanha Oriental. A AfD foi o segundo partido preferido dos orientais nesse domingo. Outras questões polêmicas do programa da AfD são o restabelecimento do controle de fronteiras, o que afrontaria o acordo de Schengen, e a proibição do uso de indumentárias islâmicas.

O primeiro grande desafio da nova gestão de Angela Merkel será a composição de uma coalizão que garanta a maioria no parlamento. Mas as contas serão apertadas. Isso porque o SPD, após a votação catastrófica que obteve, deve anunciar sua ruptura com o governo, e partir para a oposição em busca de se reconstruir e reconquistar sua base. Com a esquerda e a extrema-direita sendo parceiros improváveis de Merkel para uma possível aliança, restam os verdes e os liberais do FDP para que, ao lado do CDU da chanceler reeleita, construam uma coalizão e, embora por uma pequena margem de 36 cadeiras, obtenham assim maioria parlamentar.

Independente dos rumos que sejam construídos a partir dessa nova formação da Bundestag (o parlamento alemão), é evidente que temas de cunho xenófobo, como contra os refugiados, por exemplo, devem ganhar força e passar a entrar na pauta da política alemã.

Outro ponto destacado por analistas políticos alemães é que a partida do SPD para a oposição impediria que a extrema-direita do AfD se tornasse o maior partido entre os opositores do atual governo. Já na noite desse domingo (24), alguns protestos ocorreram em diversas cidades alemãs contra esta ascensão. Em Berlim, os manifestantes se reuniram na praça Alexanderplatz com faixas e cartazes com mensagens como "Xenofobia não é alternativa" e "Fora, nazistas". Os novos mandatos de Angela Merkel, e do parlamento eleito, terá validade até 2021.