Alckmin manda indireta a Doria: Não faço viagens no horário de serviço

Desde que João Doria, prefeito de São Paulo, resolveu colocar as suas asas para fora, o clima no PSDB não é mais o mesmo. Em evento em Belo Horizonte, nesta segunda-feira (18), o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), padrinho político de Doria, se reuniu com empresários e aproveitou o encontro para alfinetar Doria, que tem feito muitas viagens pelo país e tenta se consolidar como opção do partido para disputar a Presidência.

alckmin e doria - Ciete Silvério/Fotos Públicas

“Procuro fazer agendas, que não são oficiais, fora do horário de serviço, de noite ou nos finais de semana. E sempre com passagem e hotel pagos com dinheiro do meu bolso”, afirmou Alckmin, em uma clara referência aos excessos de viagens de Doria, que percorreu o país tentando articular a sua candidatura.

Alckmin estava certo de que, com o afastamento de Aécio Neves (MG), citado e investigado na Lava Jato, e de José Serra (SP) da disputa da vaga para a eleição para a Presidência da República, ele seria o candidato natural e unânime da sigla. No entanto, Doria, traindo a confiança de seu padrinho, tenta emplacar o seu nome dentro do partido.

Oficialmente, ambos disseram que não há animosidade e que os dois não estão disputando espaço, mas intensificaram suas agendas pelo Brasil nos últimos meses.

O evento, promovido pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), contou com a presença de vários parlamentares tucanos, como o senador Antonio Anastasia e o presidente do PSDB em Minas, deputado Domingo Sávio. Aécio Neves, no entanto, não compareceu.

“O momento não é de angariar apoio ainda. Mas já tive apoio de Aécio quando fui candidato (em 2006) e ficarei honrado em ter novamente o apoio, não só dele, como de todos os mineiros”, disse Alckmin.

Doria, por sua vez, cumpriu agenda política em Porto Alegre, onde gravou vídeo em frente ao seu jato particular no qual afirma que não usa recursos públicos em seus deslocamentos. 

“Viajo com meu dinheiro no meu avião”, afirmou Doria. Segundo seus auxiliares não se tratava de uma resposta a Alckmin, mas ao Ministério Público, que na semana passada abriu investigação para apurar as viagens feitas durante horário de trabalho.

"Quem não gostaria de ser presidente do Brasil?", indagou Doria, em entrevista ao SBT exibida na noite desta segunda-feira (18). "Uma coisa é desejar. Outra coisa é formalizar, estabelecer a sua própria rota. A conjuntura é que vai formatar o desejo", afirmou.

Rachado

Mas apesar de tentar minimizar a disputa interna, o racha na legenda já é visível. Grupos ligados à Juventude PSDB estão se atracando nas redes sociais e fora dela. De acordo com fontes, a Conexão 45, que é ligada a Doria e ao MBL, estão promovendo ataques a Alckmin e outros tucanos nas redes sociais e no WhatsApp.

Durante participação em evento no sábado (16), Doria ouviu reclamações dos grupos. “Estão fazendo calúnias contra o senador José Serra, contra o governador Alckmin e contra o ministro Alexandre Moraes, tudo em nome do senhor”, afirmou Lucas Sorrilo, da J-PSDB.

Ele disse ainda que militantes da Conexão 45 têm coagido tucanos com cargos na Prefeitura a apoiar a pré-candidatura presidencial de Doria. "Eles fazem pressão na capital. Dizem que, para estar na Prefeitura, tem de ser do time Doria", disse.

"Desautorizo qualquer manifestação em relação ao Geraldo Alckmin. Tenho sido um guardião zeloso dessa relação", disse Doria, que no mesmo dia se reuniu com o grupo Conexão 45, onde foi recebido com o Tema da Vitória de Ayrton Senna.