Chavismo recebe a maior votação de todos os tempos

Já passava das 23h (00h, no horário de Brasília), quando o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela divulgou o primeiro boletim com os resultados sobre o comparecimento da população e os eleitos pelo voto territorial, neste domingo (30).

Por Leonardo Fernandes e Jônatas Campos

Manifestação na Venezuela - AVN

A presidenta do CNE, Tibisay Lucena, afirmou que o processo constituinte teve 41,53% de comparecimento do eleitoral às urnas, totalizando 8.089.320 votantes. “Nosso agradecimento e reconhecimento a todos os venezuelanos, não só àqueles que foram votar, mas inclusive àqueles que não foram, mas também se negaram à violência”, afirmou Lucena.

Lucena disse que, embora tenham sido registrados alguns focos de violência, eles não representaram qualquer risco à integridade do processo eleitoral. “Estivemos resolvendo esses problemas apresentados e isso não impediu que as pessoas exercessem seu direito ao voto”, destacou.

A presidenta do CNE lembrou que foram eleitos 537 dos 545 deputados e deputadas constituintes. Os outros oito representantes indígenas serão eleitos na terça-feira, 1 de agosto, de acordo com seus costumes e tradições.

Com as eleições de domingo, a Venezuela já realizou 21 pleitos em 18 anos de chavismo. “Ganhou a democracia na Venezuela. Um país onde as pessoas votam, segundo os cânones liberais, assim se vive em uma democracia”, disse o economista espanhol Alfredo Serrano Mancilla, coordenador do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (Celag). “A democracia representativa se aplica ao pé da letra na Venezuela. As eleições constituintes são uma mostra disso, [ela] terá que dar novas respostas para novas demandas do povo venezuelano”, concluiu.

Maduro: “Maior vitória em 18 anos”

Logo depois do anúncio oficial realizado, o presidente Nicolás Maduro compareceu à Praça Bolívar, no centro da capital Caracas, onde uma multidão de apoiadores o esperava. “Temos uma nova Assembleia Constituinte!”, disse o mandatário.

O presidente venezuelano destacou que, embora o número de eleitores tenha correspondido a pouco mais de 41% do eleitorado do país, ele representa a maior votação da história do chavismo, já que a oposição decidiu não participar do pleito, convocando seus apoiadores à abstenção. “Essa é a maior votação que já teve a Revolução Bolivariana em toda a história desses 18 anos”, comemorou.

O voto na Venezuela é facultativo. Nas eleições legislativas de 2015, quando a oposição ganhou quase dois terços das vagas na Assembleia Nacional, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), que reune todos os partidos de oposição ao governo Maduro, recebeu 7,7 milhões de votos. Essa foi a maior votação da oposição em toda sua história.

Do lado chavista, a maior votação ocorreu em 2012, quando o ex-presidente Hugo Chávez recebeu 7,8 milhões de votos, contra 6,3 milhões de Henrique Capriles. Naquele pleito, o nível de abstenção chegou a 19,15%.

Diálogo

Durante sua intervenção na Praça Bolívar, Maduro revelou que uma delegação do governo esteve reunida por várias semanas com representantes da oposição, entre eles, o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges. “Propus a ele há duas semanas: ‘porque não se inscrevem na Constituinte? Eu estou disposto a adiar por 15 dias [a votação] para que se inscrevam. Façam a campanha e que sejam feitas eleições livres.’ Então eles me pediram uma hora, e quando voltaram disseram ‘não aceitamos’”, relatou o presidente.

Mídia internacional

As manchetes dos meios internacionais de imprensa foram uníssonas ao destacar uma suposta “baixa participação” em um contexto de “caos generalizado” no país durante a jornada desse domingo.

O El País, da Espanha, titulou: “Violência e abstenção durante a votação da Constituinte de Maduro”. No momento em que foi publicada, o Conselho Nacional Eleitoral não havia divulgado o primeiro balanço sobre a participação eleitoral.

O argentino Clarín destacou a posição do governo de Maurício Macri, que decidiu não reconhecer os resultados da eleição que classificou de “ilegal”. Na capa, a imagem de um ataque a bomba realizado pelos grupos de oposição em um bairro da zona leste da capital, com o título: “Caracas, entre gases, repressão e parapolícias”, referindo-se à Guarda Nacional Bolivariana.

O New York Times disse: “Violência marca a eleição da Assembleia Constituinte na Venezuela”. O jornal estadunidense menciona a explosão ocorrida “em uma das principais ruas de Caracas” sem citar possíveis causadores. O mesmo fez a agência de notícias EFE, que publicou em uma rede social a manchete “Um agente ferido pela explosão de três motos da polícia de Caracas durante as eleições da Constituinte venezuelana”.

Violência localizada

A oposição relaciona 16 mortes com o pleito eleitoral de domingo. Já o Ministério Público reconhece 10 mortes relacionadas aos conflitos. Dentre os muitos feridos, estão 8 policiais da Guarda Nacional Bolivariana que foram atingidos por uma bomba detonada em uma das barricadas da oposição da Avenida Francisco de Miranda.

Um dirigente chavista e candidato constituinte foi assassinado ainda na madrugada do dia 30, em Ciudad Bolívar, no centro-sul do país. José Félix Pineda Marcano era candidato pelo setor das Comunas (uma espécie de associação de vários bairros). Segundo a imprensa local, um suspeito se aproximou dele e efetuou vários disparos com uma arma.

Oposição

A Mesa da Unidade Democrática (MUD), conglomerado de partidos que se opõem ao chavismo, convocou outra jornada de protestos, interrupção de ruas e uma marcha para o próximo dia 3 de agosto, data da instalação da Assembleia Nacional Constituinte.

A oposição também apresentou números de seus levantamentos durante a votação, argumentando que houve pouco comparecimento. Apesar de não dispor de nenhum mecanismo de medição, visto que esta é uma prerrogativa do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), a MUD afirma que 12,4% dos venezuelanos compareceram às urnas.

O governador do estado de Miranda e uma das lideranças da oposição, Henrique Capriles Radonski, afirmou que as “abstenções são uma mensagem clara, uma forma clara de falar”. O governador convocou os manifestantes de todo o país para seguirem a Caracas para o próximo dia 3 e qualificou as mortes ocorridas em todo o país como um “massacre”.