Sob pressão, Temer tentar garantir votos contra denúncia em plenário

Para rejeitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República por corrupção passiva, o governo Michel Temer escancarou o balcão de negócios do Planalto. Dos 40 deputados que votaram pela rejeição do parecer, 39 tiveram R$ 266 milhões em emendas parlamentares empenhadas no período de junho, após a divulgação da delação do empresário Joesley Batista, e as duas primeiras semanas deste mês, ou seja, às vésperas da votação.

O que o governo diz que é demonstração de uma base aliada forte e unida, revela a fraqueza do governo, que precisa usar de outros meios nada republicanos para se manter no poder. Agora, Temer espera que o recesso parlamentar possa dar tempo para, com essa mesma estratégia. garantir os votos no plenário da Câmara, onde são necessários 342 deputados para aprovar a denúncia.

Alguns partidos já fecharam questão contra a denúncia, como o PP, PR e o próprio PMDB. Mas essa não é uma garantia de voto, e os caciques das siglas estão tentando convencer suas bancadas. No entanto, aliados já admitem que muitos parlamentares devem votar contra o governo, incluindo membros do PMDB, partido de Temer, e do PSDB, os fiadores do golpe.

Temer ainda acredita que poderá contar com alguns votos tucanos e do PSB, e tenta ajustar o balcão. Levantamento feito pelo O Estado de S. Paulo mostra que, desde 29 de junho, 82 deputados e 16 senadores foram recebidos por Temer. Ele precisa de pelo menos 172 votos para rejeitar a denúncia em plenário da Câmara dos Deputados, mas principalmente, precisa que a oposição não consiga 342 em apoio à denúncia.

Numa negociação, o lado mais fraco tende a ceder mais e ter pouco espaço para imposições. Enfraquecido e com um índice de rejeição popular recorde, Temer tem se reunido com parlamentares no Palácio do Jaburu – o mesmo local onde tramou o golpe contra Dilma Rousseff –, para ouvir os seus pleitos e tentar garantir pelo menos 250 votos no plenário, o que para ele demonstraria que o governo ainda tem condições de governar.

Segundo fontes da grande mídia, parlamentares do PP, PR e o próprio PMDB disputam a tapa os cargos e o governo já começa a comprometer os recursos de emendas parlamentares previsto para este ano. As verbas de emendas estavam contingenciadas para garantir as votações das reformas, especialmente a da Previdência. Mas o governo não tem munição e está lançando mão desses recursos para assegurar a sua permanência no poder.

Levantamento feito pelas próprias bancadas aponta que pelo menos 30 parlamentares do PMDB, PR, PTB, PSD, PRB e PP tendem a votar contra o governo.

Obstrução

A oposição repudia. O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) anunciou que entrar com um pedido para que a Procuradoria-Geral da República investigue o caso. “Queremos impedir que Temer continue usando dinheiro público para obstruir a Justiça e permanecer impune com a ajuda do Congresso”, afirmou.

“Queremos impedir que Temer continue usando dinheiro público para obstruir a Justiça e permanecer impune com a ajuda do Congresso. Além disso, queremos impedir que serviços essenciais sejam prejudicados por causa dessas manobras ilegais e irresponsáveis do governo”, afirmou Molon, que assina o documento com o deputado Aliel Machado (Rede-PR) e com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).