Trump joga para a platéia

 Anúncio de suspensão do acordo com Cuba é puro palanque e não mexe com o que mais interessa aos empresários norte-americanos
Por Marco Piva do Ópera Mundi





Trump

Donald Trump segue sua escalada retórica para tentar se distanciar do fantasma do impeachment. Para isso, se vale de iniciativas pela metade como, por exemplo, a retirada de Washington do Acordo de Paris e, agora, a suposta suspensão da reaproximação diplomática com Cuba.

No primeiro caso, ele sabe muito bem que os estados federados tem autonomia para decidir por si mesmos, ou seja, é bem capaz de a Casa Branca pagar o mico de se retirar sozinha do maior acordo ambiental que a humanidade já conseguiu. Talvez nem o governo do conservador estado do Texas acompanhe a decisão.

No caso do acordo de restabelecimento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba, assinado em dezembro de 2014, isto é irreversível, queira Trump ou não. Para se ter uma ideia, 284.565 norte-americanos visitaram a ilha de janeiro a maio desse ano, um crescimento de 145% em relação ao mesmo período de 2016, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas e Informação de Cuba.

Empresas dos Estados Unidos iniciaram um movimento de grandes investimentos na ilha, principalmente nos setores de turismo, transporte e telecomunicações. Google e Airbnb detectaram um potencial enorme de crescimento. Foram gerados dez mil empregos em território norte-americano por conta desses investimentos.

Assim sendo, do que Trump está falando? Ele fala para Little Havana, bairro dos exilados cubanos em Miami, que deu grande apoio ao candidato republicano e foi importante para que Trump ganhasse as eleições na Flórida. O que ele está oferecendo para esse público é um regozijo mental, típico das mentes que insistem em viver de um passado que não mais voltará. No mais, a única medida concreta é não permitir que empresas norte-americanas realizem transações comerciais e financeiras com o Grupo de Administração de Empresas (GAESA), a estatal cubana que gerencia todos os investimentos estrangeiros na ilha.

Trump também disse que pretende restringir as motivações pelas quais um norte-americano possa visitar Cuba. Ele quer diminuir a remessa de dólares para a ilha e seu governo não pode incentivar a violação dos direitos humanos pela ditadura de Raul Castro. Bobagem. Os empresários norte-americanos são mestres em capitalismo e saberão conduzir seus negócios com a mesma perspicácia de antes buscando formas alternativas de investimento e manutenção dos negócios.

Já os turistas estarão pouco se importando com as restrições na concessão para viajar. Sempre poderão escolher uma entre as doze motivações estabelecidas no acordo diplomático para visitar Cuba. Uma delas é muito simples: querer ter contato “povo a povo”. A Airbnb agradece. Enquanto idiotas aplaudem Trump em Little Havana.