Lu Castro:  São Paulo – breve dissecação da incompetência

Trago um assunto indigesto. Não trata, como de costume, do futebol das mulheres e suas nuances tão peculiares. Falo hoje com o coração de uma torcedora desalentada e com a razão com a qual procuro permear os rompimentos, as dificuldades e as feridas da vida.

Torcida do São Paulo

Exemplo de caos gritante e que tem nos atingido feito sparrings alcoolizados, o momento político/econômico/social é ideal para nosso fortalecimento, afinal, mar calmo nunca fez bom marinheiro. E é deste ponto que pego o gancho para meu argumento.

Tem uns anos que observo o São Paulo. Tomei um certo distanciamento por questões de ‘quase morro do coração em duas ocasiões de derrota e eliminação na Libertadores’ e comecei a pensar numa [im]possível indenização por danos físicos e psicológicos e para, numa eventual morte, garantir a sobrevivência das minhas filhas. Achei pertinente, então, mudar minha conduta: “Abstrai Luciane, abstrai!”

Abstraí mas não me distraí. Desde a sequência de títulos brasileiros, vejo um SPFC sem alma. Sei lá, não tem luz, não tem brio. Coincidência ou não, o último título brasileiro conquistado pelo Tricolor foi em 2008, uma semana depois do falecimento do presidente Marcelo Portugal Gouveia, o cara que arrumou o SPFC.

MPG deixou a presidência do clube em 2006 e passou a bola para Juvenal Juvêncio. Nos três primeiros anos da gestão Juju, o SPFC se tornou tri-hexa campeão brasileiro, algo que nenhum outro clube brasileiro conquistou até o momento. Méritos de Juju? Não na minha visão. A gestão de Marcelo Portugal Gouveia foi a responsável. O que Juvenal Juvêncio fez foi falar muito, dar cavalo de presente para jogador e se tornar uma figura que distraía e fazia rir.

Vejam, são doze anos sem um título paulista. Nove sem um título brasileiro – okay, Brasileirão não se ganha assim tão fácil. Libertadores, tantos outros doze. Uma Sulamericana em 2012 nestes últimos doze anos. Muito tempo para eliminações e ausências sendo uma equipe com histórico de títulos e respeitada mundialmente.

Neste período de engodo Juvenal Juvêncio / Carlos Miguel Aidar / Leco, colecionamos desgostos e dores estomacais de fazer inveja ao mais hipocondríaco dos humanos. E eis que chegamos na situação atual. Esta época em que ganhar um jogo em casa é quase tão complexo quanto determinar a origem dos buracos de minhoca.

A torcida – e toda a torcida, não só organizadas – está em ponto de ebulição. Mais do que o resultados dos jogos, o que mais tem mexido com o meu brio, ao menos, é a ausência de refinamento nos quesitos mínimos exigidos de um jogador de futebol, tendo em conta que é seu ofício jogar bola, que tira seu sustento – e de modo muito diferenciado do restante da população – apenas do futebol e, portanto, só faz isso.

Ainda assim, há uma supervalorização do profissional da bola e quase nenhuma sanção em razão de sua incompetência. Vá lá o caboclo vai pro banco, deixa de ser relacionado, é negociado, entre tantas outras opções, mas ele não perde o espaço no mercado, mesmo se mostrando um perfeito grosso.

Bem, não vou discorrer tecnicamente sobre nada. Minha visão é de cenário amplo e não focado apenas dentro do campo, embora esteja bem nítido que finalização não é o forte deste time.
Nos últimos meses o SPFC denota uma certa fragilidade, irregularidade e inconsistência.

Rogério Ceni, ídolo tricolor, assumiu o comando técnico do time trazendo esperança para a massa são paulina. Se colaborou efetivamente para que grandes títulos fizessem hoje parte do memorial do clube, a mesma regra não se aplica em sua nova posição.

Nos grupos que acompanho, a antinomia prevalece. Neste aspecto, Ceni se faz presente entre ataques e defesas, bem como se sagrou artilheiro dentro de campo. Entretanto, é inegável, pelo menos dentro de uma análise bem simplória, que o caminho curto entre a aposentadoria e o comando da equipe, não foi a melhor escolha.

Sugiro e venho me apoiando na ideia de que falta cancha a Rogério Ceni. A pressão diante de maus resultados, tão evidente quanto a cerveja que beberei nos próximos dias, tem batido na porta da entidade SPFC. Ceni tem parte da responsabilidade, portanto não o culpo inteiramente por isso. Acredito que começar uma carreira como técnico, deveria passar, obrigatoriamente, pela base tricolor. Alí, trabalhando com os meninos de Cotia, o ídolo teria tempo para aprimorar seus conhecimentos recém adquiridos como treinador, que difere, absurdamente, do papel de capitão e protetor dos companheiros.

Esse “passa pano” para o time é o que vem me irritando. Tá, okay, Ceni deve ter seus motivos, mas é preciso mudar a chave de atleta para técnico. Noves fora a merda já foi feita, cabe à diretoria tricolor resolver a pendenga antes que a torcida mude a sua chave: de conversa e xingamento para “vamos quebrar tudo”. Afinal, não se brinca com o coração do torcedor.

A torcida está dividida, é fato. Só na unidade será possível fazer pressão por qualquer mudança no SPFC. Acredito que só na “tragédia” a torcida se fortalecerá. Por tragédia entende-se, dentro do contexto do ludopédio, o descenso, o rebaixamento, a disputa de uma série B.

Antes no chão com a chance de reorganizar, reavaliar e mudar o rumo da prosa – para melhor, Oxalá! – do que do alto da soberba e do uppercut desferido pela realidade.
Lembram da epígrafe deste texto? É nela que me encerro.