Rafael Marques critica reforma trabalhista e defende Diretas Já

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, Rafael Marques, defendeu eleições diretas como saída para a atual crise política que tem no centro o presidente da República envolvido em esquemas de corrupção. O dirigente, que encerra o mandato no sindicato neste mês, criticou as reformas que tramitam no Congresso Nacional, especialmente a trabalhista.

Rafael Marques, presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC - Adonis Guerra

“Mesmo antes da mais recente crise, o presidente não tinha legitimidade, porque essas reformas não foram referendadas pelas urnas. Só um governo que não foi eleito imporia esse ritmo de tramitação no Congresso”, declarou Rafael à Folha de S. Paulo.

Temer não é confiável

Na opinião do sindicalista, as denúncias da JBS contra o presidente ampliaram o nível de desconfiança da sociedade. “Ainda assim, o senador Ricardo Ferraço [PSDB-ES; relator da reforma trabalhista] se fia num acordo para corrigir a reforma via medida provisória [após ela passar no Senado]. Mas será que Temer vai cumprir o que prometeu? Não confiaria nele”, completou.

A reforma trabalhista tramita na Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS). Nesta terça-feira (20), o texto deverá ir à votação na comissão. Ricardo Ferraço rejeitou emendas e sugeriu apenas vetos em alguns pontos. Deixou nas mãos do ilegítimo Michel Temer a decisão sobre a reforma, que modifica mais de 100 pontos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Para senadores da oposição, Ricardo Ferraço, que também foi o relator na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), tem se esquivado de legislar. Ao não acatar emendas, o parlamentar evita que a matéria volte para a Câmara dos Deputados.

Segundo Rafael, “A crise provocada pela delação da JBS tirou o ímpeto dessa gente, mas não a pauta”. O governo segue pressionando pela aprovação da reforma trabalhista para se voltar depois para a da Previdência Social que tramita na Câmara através da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287.

Reforma é o pior de outras experiências

“O debate não é para adequar a CLT às novas tecnologias da indústria 4.0 ou às novas modalidades de compra criadas pela internet. A reforma não foi pensada para colocar o Brasil em sintonia com o futuro, mas para aumentar a lucratividade das empresas, introduzindo regimes de trabalho que só garantem uma fração dos direitos”, ressaltou o dirigente.

Na opinião dele, a reforma trabalhista de Temer importou o que de pior foi feito em outros países e lança mão de “uma janela de oportunidade, que é o golpe sofrido pela [ex-presidenta] Dilma [Rousseff], para acelerar essas reformas”.

Rafael citou como exemplos de precariedade que serão adotadas em caso de aprovação da reforma trabalhista a adoção da jornada de trabalho parcial, o trabalho intermitente e o teletrabalho.

“Na Itália e em Portugal, essas medidas foram adotadas e depois tiveram que ser revertidas. Setores do empresariado apoiam essa pauta equivocadamente. O fortalecimento da competitividade e da produtividade não passa por aí.”

Imposto sindical

“Eu estava na Câmara quando aprovaram a reforma trabalhista e os deputados provocaram dizendo que agora seria a vez da reforma sindical”, lembrou Rafael. Entre os pontos mais criticados pelas centrais sindicais está o fim do imposto sindical.

O dirigente acredita que as entidades históricas estão preparadas para se manterem mesmo com fim do imposto sindical obrigatório. No entanto, afirma que este não é o momento de se acabar com essa fonte de financiamento das entidades sindicais.

“É preciso criar outro sistema de fomento dos sindicatos, e não dá para acabar com o imposto numa tacada só. Neste momento, o fim do imposto sindical é desleal”, defendeu.

Diretas Já

De acordo com Rafael, o impeachment contra a presidenta eleita Dilma Rousseff foi uma violência e quebrou o entendimento que existia sobre o país. “Ela saiu e entrou uma quadrilha. O país está de pernas para o ar e só o povo pode consertar isso.”

O dirigente completou: “Se elegerem alguém com uma concepção totalmente diferente da minha, tudo bem. Mas é preciso que os candidatos digam que defendem as reformas. Se ganharem, as reformas estão legitimadas”.